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quinta-feira, novembro 29, 2007

SÓ OS CRENTES COMETEM CRIMES?

1. Não será certamente razoável atribuir às religiões a chave de resolução de todos os dramas do mundo. Mas será curial assacar-lhes a responsabilidade por todos os problemas da humanidade?
É óbvio que, enquanto fenómenos humanos, as religiões partilham das luzes e das sombras do ser humano. Isolá-las — ou, melhor, insulá-las, como se de ilhas ou de guetos se tratassem — é, pois, uma pura impossibilidade.
Não podemos ignorar que o religioso inocula um acréscimo de sentido à existência de muita gente. Neste contexto, não falta quem lembre que a religião está envolvida no pior que a história tem registado. Importa, contudo, advertir (por uma elementar questão de verdade) que o religioso também está ligado ao melhor que a mesma história tem conhecido.

2. Será lícito afirmar que a violência é uma questão religiosa?
Léon Rozitchner (com um dogmatismo pouco compaginável com quem cultiva a busca filosófica) assevera categoricamente que a origem da violência está no…cristianismo: «O cristianismo inaugurou a violência e a opressão tal como existem no mundo»!
Não é preciso muito para contrariar esta posição. Os factos encarregam-se de a rebater. Não havia violência nem opressão antes do cristianismo?
É claro que houve cristãos que cederam à violência e participaram em guerras. João Paulo II pediu perdão por isso, lamentando que tenha havido quem, desse modo, «tivesse desfigurado o rosto pacífico de Cristo».
Isto significa que a violência decorre de uma degenerescência e não da essência do cristianismo. Foi a incorporação de princípios estranhos ao Evangelho que motivou a incursão de muitos pela (ínvia) via da violência.
Foi uma espécie de cristianismo sem Cristo que o adulterou. Mas daí a tomar a parte pelo todo vai uma enorme — e intransponível — distância.
A história assume-se, não se altera. Há que assumir, pois, o pecado de muitos cristãos no envolvimento da guerra. Todavia, há que reconhecer (outras) três coisas:
  • que — infelizmente! — a violência já existia antes do cristianismo;
  • que — graças a Deus! — sempre houve (e continua a haver) inúmeros cristãos comprometidos com a paz;
  • e que — convém não negligenciar este dado — também há cristãos vítimas da violência!
O Padre Andrea Santoro era um fervoroso militante do diálogo inter-religioso. Nem isso, porém, foi motivo de clemência, tendo sido assassinado na Turquia depois de celebrar a Eucaristia. Meses depois, ocorreu mais um ataque contra um padre católico (e de novo na Turquia). Desta vez, foi o Padre Pierre Brunissen, de 74 anos, a ser esfaqueado.

4. Será a religião um caso perdido? Estará na eliminação da religião o caminho para a paz? Acontece que não é só a religião que conta vítimas; a irreligião também as contabiliza. O relatório sobre a liberdade religiosa, recentemente divulgado, é bem elucidativo: há países onde se prendem fiéis, se torturam e matam crentes e se destroem locais de culto.
A saída do impasse incluirá, necessariamente, uma incessante depuração de comportamentos por parte de todos. Crentes e não crentes têm de aprender a respeitar-se. A fé e a descrença são realidades humanas. Fazem parte da vida. Não podem ser, por conseguinte, obstruídas nem combatidas.
Fonte: Theosfera

2 comentários:

  1. «Os homens nunca fazem o mal tão completa e alegremente como quando o fazem por convicção religiosa». (Pascal)

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  2. e este pascal era um beato do caraças, não era?

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