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terça-feira, dezembro 11, 2007

A IGREJA CATÓLICA NO LABIRINTO DO SEXO

Uma razão fundamental do mal-estar em relação à Igreja provém da sexualidade.

Desde o século XVIII, muitos terão iniciado o seu abandono, porque concretamente a confissão, patologicamente centrada no pecado sexual, esmiuçado até à exaustão, começou a ser sentida como invasão indevida da intimidade e ferindo inclusivamente os direitos humanos.
A Bíblia contém, dentro da literatura mundial, um dos mais belos hinos ao amor erótico: leia-se o Cântico dos Cânticos. Desde o início, no Génesis, se diz que a sexualidade é dom de Deus. Segundo a Bíblia, o ser humano não está dividido em corpo e alma, pois forma uma unidade. Na perspectiva cristã, o corpo não é desprezível, pois o próprio Deus assumiu a humanidade corpórea.
A gnose, o maniqueísmo, Santo Agostinho, a lei do celibato dos padres, misogenias, dualismos antropológicos, concepções do poder a reprimir o prazer: eis algumas das causas do mal-estar.

A emancipação feminina e a facilitação da possibilidade de separar actividade sexual e procriação foram determinantes para uma nova vivência da sexualidade.

A Igreja terá sempre dificuldade em ter uma palavra equilibrada sobre temática tão complexa como humana, uma palavra que não seja de bênção para o "vale tudo" nem de repressão da alegria do encontro de liberdades sexuadas.

Mas, sob o nome de Monsenhor Pietro De Paoli, alguém altamente posicionado na Igreja quis reflectir sobre problemas fundamentais dessa Igreja, facilitando a questão, mediante a forma de romance: Vaticano 2035. Trata-se de um cardeal que chega a Papa, depois de ter tido a experiência do casamento, da viuvez, de duas filhas que nem sempre cumprem as regras oficiais, de um cardeal homossexual.O novo Papa toma apontamentos para uma futura encíclica sobre a sexualidade. Já não se tratará de condenações, mas de compreensão e de apelo a uma caminhada no respeito, no amor, no desejo de progredir em humanidade digna.
Começaria por relembrar o sentido profundo da sexualidade: "o primeiro bem do casamento é o amor." A sexualidade pode e deve ser um lugar privilegiado de humanização e de aprendizagem da unidade do ser humano enquanto corpo e espírito. "É pelos nossos enlaces, união íntima do corpo e do espírito, que compreendemos, talvez da maneira mais próxima, o que significa o amor encarnado."

Seguem-se alguns pontos de referência:
  1. Embora a existência humana seja um caminho, devendo cada um responsavelmente examinar em consciência em que etapa se encontra, lembra-se que o exercício da sexualidade humana, antes de formar um laço conjugal, é uma forma não plena de sexualidade.
  2. "Os seres humanos não se reproduzem, fazem amor." É importante perguntar de que modo o exercício da sexualidade tem de facto o amor como fruto e de que modo dá fruto; "é certamente um critério de julgamento".
  3. O exercício da paternidade e da maternidade responsáveis requer "um diálogo permanente, franco e sincero entre os esposos". Esse diálogo incidirá concretamente nos meios de assumir essa responsabilidade.
  4. O homem e a mulher não são posse um do outro.
  5. "A sexualidade homossexual é um facto comprovado em todas as sociedades humanas." Que sabemos sobre a sua génese, as suas causas, a sua "natureza"? "Afirmamos que não desejamos julgar nem os comportamentos nem as pessoas: os pontos seguintes permitirão exercer um discernimento sobre o exercício de toda a sexualidade humana, incluindo a homossexual."
  6. "O meu corpo não é uma coisa, o corpo do outro não é um objecto."
  7. O exercício da sexualidade pressupõe "o respeito mútuo, a confiança e o consentimento de cada um".
  8. "A sexualidade realmente humana não pode exercer-se no âmbito do constrangimento, da chantagem ou de uma relação tarifada."
  9. O exercício da sexualidade humana é feito de permuta de gestos e de intimidade revelada, "mas pressupõe antes uma troca de palavras".
  10. "Violar a palavra dada, quebrar um compromisso, ser infiel são faltas graves."
Anselmo Borges, padre e professor de Filosofia in JN
Afinal a sexualidade não é um TABU no seio da Igreja.

1 comentário:

  1. Parece-me uma linguagem nova, sadia de encarar o sexo.
    Não deveriam os cristãos reflectir sobre a situação?
    Infelizmente, a visão da Igreja sobre o sexo nem sempre foi a do Evangelho, causando muitos distúrbios pessoais e até abandonos.
    Penso que aqui há que purificar a memória...
    Que lhes parece?

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