Muito antes, Tertuliano, Padre da Igreja, tinha escrito: "Que espectáculo grandioso! Exultarei, contemplando como tantos e tão grandes reis, dos quais se dizia que foram recebidos no céu, gemem nas trevas profundas. A visão de tais espectáculos, a possibilidade de que te alegrarás com tais coisas - que pretor ou cônsul ou questor ou sacerdote poderá oferecê-la, por muita generosidade que tenha?"
Não duvido de que subjacente a estes textos se encontra a ideia de que um dia será feita justiça. A injustiça é intolerável. Mas, sub-reptícia e inconscientemente, aninha-se neles muito sadismo. A crença no inferno foi uma das polícias mais eficazes de todos os tempos. No entanto, o inferno não faz parte do Credo cristão e só pode pregá-lo quem nunca meditou no mistério insondável da liberdade humana, mergulhada nos condicionamentos da temporalidade. Aliás, mesmo do ponto de vista conceptual, o que é que pode querer dizer uma condenação eterna? Às acusações de que deste modo se está a abrir caminho à irresponsabilidade e ao vale-tudo deve responder-se que o amor não banaliza, mas responsabiliza, devendo acrescentar-se que Deus só levará à plenitude as possibilidades concretizadas pelo ser humano no tempo.
Não constitui nenhum exercício de masoquismo lembrar que, desgraçadamente, para um número indeterminável de homens e mulheres, a religião, cujo núcleo é a salvação e a felicidade plena, em vez de ser o espaço da alegria, da expansão e da vida, foi, de facto, o espaço da tristeza, da humilhação e da morte.
Penso, por exemplo, em todos aqueles que foram e são vítimas de ódios e guerras cruéis e sanguinárias com base na religião. O horror, pura e simplesmente! Penso, claro, nas vítimas da Inquisição e em todos quantos, em todas as religiões, foram e são vítimas de censura, condenação e exclusão por motivos teológicos. Pergunto-me frequentemente como é que houve e há quem se arrogue o direito e até o dever de "definir" quem e o que é Deus e a partir daí condenar e excluir.
- A história da missionação é uma história de generosidade sem nome, mas também se não pode esquecer ter tantas vezes servido interesses imperiais e assim contribuído para arrasar culturas.
- Penso na história das relações entre as religiões e a sexualidade e nas vidas sexuais envenenadas e nos celibatos eclesiásticos obrigatórios e nos seus dramas e desgraças. Penso em certo tipo de confissão auricular que poderá ter ferido os direitos humanos.
- Penso nas mulheres cujos direitos em igualdade com os homens as religiões de modo geral não reconhecem e sobretudo nas acusações de bruxaria que as levaram à fogueira.
O mais pernicioso foram e são ideias teológicas mesquinhas e ridículas. Também por isso, nomeadamente Buda, Confúcio, Sócrates e Jesus, figuras determinantes para a Humanidade e de cuja profunda religiosidade ninguém pode duvidar, foram considerados ateus. Sócrates concretamente bebeu a cicuta, acusado de ateísmo, e Jesus morreu na cruz, acusado de blasfémia.
Estes factos obrigam a ter constantemente presentes, com temor e tremor, os perigos patológicos das religiões. Talvez nunca se tenha meditado suficientemente na grandeza heróica daqueles que preferiram o ateísmo a ficar presos de um deus que humilha, escraviza e anula o Homem.
No entanto, o Homem é por natureza religioso, no sentido de estar constitutivamente aberto à questão de Deus enquanto questão. Essa abertura, independentemente da resposta, positiva ou negativa, que se lhe dê, é que é o fundamento último da dignidade humana. Precisamente porque é abertura ao infinito.
A religião enquanto fé no Deus infinito e pessoal foi mediadora da tomada de consciência da infinita dignidade de ser Homem. Esta é a intuição e a parte de verdade da tese de Feuerbach ao querer reduzir a teologia a antropologia.
Esta reflexão tem na sua génese a carta de uma colega a confessar-me a experiência traumatizante do pavor do inferno na infância, que a levou ao abandono da prática religiosa. Não deixou, porém, a fé na mensagem de que Deus é Amor, continuando a acreditar nos valores cristãos e a tentar praticá-los.
Fonte: Pe. Anselmo Borges in DN
Ai se os do Opus Dei lêem este artigo! P.e Anselmo, P.e Anselmo, estás frito! Eles que acham que a salvação e a mudança estão na confissão auricular! Parecem "ratos de confessionário". Aí é que eles manobram...
ResponderEliminarÉ importante o que o P.e Anselmo disse. Numa Igreja que não se questiona, que joga tudo no "eclesialmente correcto", é belo haver que questione, quem ilumine, quem não tenha medo.
Parabéns!
«...Também por isso, nomeadamente Buda, Confúcio, Sócrates e Jesus,..»
ResponderEliminarGostei do texto, há uma coisa porém que convém esclarecer.
Enquanto que relativamente a Buda, Confúcio e Sócrates todos sabemos que existiram pois vários autores falaram sobre eles, de Jesus não existe uma única prova que tenha passado os testes grafo-técnicos dos textos falsificados pela Igreja Católica, o que portanto é um tanto abusivo nomeá-lo conjuntamente com os primeiros três.
O frei Anselmo Borges - tal como o frei Bento Domingues, o frei Boff, o "frei" Beto e tantos outros revoltosos! -, são cristãos rebeldes e hereges contumazes!
ResponderEliminarSe não se arrependem contritamente, se não vão espiritualmente ao Inferno em vida (como foram tantos Santos), lá cairão eternamente depois de mortos!
A maioria dos que se condenam, ao suplício eterno do Inferno, é precisamente daqueles que deixaram de acreditar na sua real existência, dizem os Santos e ensina a Igreja!
E Jesus pregou muito mais sobre o Inferno do que sobre o Céu, com toda a clareza e desassombro!
E Nossa Senhora de Fátima disse e avisou que vão muitas almas para o Inferno por não terem quem reze e se sacrifique por elas!
E não hesitou sequer em mostrar o Inferno aos Pastorinhos, criancinhas inocentes!
Assim como pediu-lhes - e por eles a todos os bons cristãos -, para rezarem muito e fazerem bastantes sacrifícios!
Quem se julgam ser tais maus filósofos e péssimos teólogos dissidentes - heréticos e anticristãos! -, para fazerem tais insinuações sacrílegas e defenderem tais ideologias contrárias ao Magistério da Igreja e aos Dogmas católicos?!
Porquê os seus Bispos, nomeadamente nos casos flagrantes e escandalosos dos padres Anselmo Borges e Bento Domingues - para já não falar noutros menos nocivos como o padre Joaquim Carreira das Neves, etc.; quanto a casos mais extremos, como ex-padre Mário da Lixa, já ninguém leva-os a sério, para além de terem sido excomungados há imenso tempo! -, não os excomungam oficialmente também, retirando-lhes os múnus sacerdotais e de professores de teologia?!
Dois pesos e duas medidas?!
Por essas e por outras é que a Igreja Católica está já tão destroçada, mas jamais sucumbirá, pois Jesus Cristo prometeu-lhe garantia e assistência directa até ao fim do mundo, embora esse fim já não esteja longe, a avaliar pelos "sinais dos tempos"!
Rezemos, pois, pela conversão e salvação de todos aqueles que, hereticamente, já não acreditam na real existência do Inferno eterno, de Satanás e de todos os espíritos malignos, bem assim como na severa e imensa Justiça de Deus, para além da Sua infinita Misericórdia, perfeitamente sábias, santas e compatíveis!
"Glória a Deus nas Alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade!"
O padre Anselmo Borges pode pensar o que lhe apetecer, é proprio do homem tentar criar ídolos, é a nossa natureza pecadora.
ResponderEliminarNão devia é dizer o que diz e afirmar-se católico. Aliás algumas coisas que diz mesmo como cristão só com muito boa vontade podem ser consideradas aceitaveis.
Pena é que os jornais quase só dêem voz às vozes desafinadas do coro cristão. E também não é muito sensato estar sistematicamente a servir de amplificador dessas vozes.
Cam
Que Igreja!
ResponderEliminarQue cristãos!
Que justiça!
Que Caridade!
Que profetismo!
Que fanatismo!
Que atitudes!
É esta a igreja de Jesus Cristo!
Incarna mais uma vez Memino Deus!
Faz-Te homem... ainda bem que já o sangue foi derramado senão o derramariamos de novo...
Creio na igreja una de divesidade
santa de pecadores
católica de universos
apostólica de pastores e leigos.
Creio na Igreja de Jesus Cristo. Nesta, na dos fariseus... ?????
Temo mais estes "crentes", que parecem não saber o que é o Amor de Deus, que os descrentes que amam.