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segunda-feira, novembro 06, 2006

«Filhos no céu», quando se perde sangue do próprio sangue

Filhos no céu é uma associação, uma «escola de fé e de oração», que oferece um caminho de fé e de esperança para superar a dor pela perda prematura de um filho e reencontrá-lo no céu, isto é, no mistério de Deus.

Quem fundou e anima esta associação é Andreana Bassanetti, psicóloga e psicoterapeuta de Parma, Itália, que não conseguiu salvar do suicídio sua filha de vinte e um anos, Camilla. Frente a essa dor pela morte de sua filha, Andreana, após seis meses em que não conseguia levantar-se da cama, conseguiu sair de casa e encontrou uma igreja aberta. Entrou com a sensação de que alguém a esperava desde há muito tempo e desde aquele dia, atraída por uma força desconhecida, durante oito meses, voltou a ajoelhar-se diariamente naqueles bancos. Lendo os salmos, relata a psicóloga, «senti uma voz interior que pronunciava palavras de amor. Mais que uma voz era um sopro quente, intensíssimo, como uma melodia, um canto de palavras esfumadas, que me penetrava e me preenchia, e me desfazia interiormente: eu conseguia perceber confusamente só a palavra amor». Bassanetti conta que «tudo durou somente dez segundos, mas teve um efeito grandioso, milagroso, me libertou do peso que me paralisava», e acrescenta: «Sobre o monte o senhor proverá, Deus me havia dado um coração novo. Eu percebi que estava chorando: silenciosamente, lágrimas quentes inundavam meu rosto. Como se pode resistir a um amor tão grande?». «Aquela noite foi para mim uma noite verdadeiramente santa, milagrosa -- escreve a fundadora de “Filhos no céu”. Voltei para cada transformada, com o coração repleto de gratidão, selando no profundo as palavras do salmo 39: “Aqui estou, Senhor, para fazer a tua vontade”».
Assim é como Andreana Bassanetti o conta nesta entrevista.
Como é possível superar uma dor tão forte como a morte de uma filha?
-Bassanetti: Quando um filho morre por causas acidentais ou naturais, para um progenitor o tormento é indescritível. É a maior dor que um ser humano pode experimentar. Um desprendimento tão lacerante que nunca se cicatriza: a existência daquele que fica, se consegue superá-la. Já não voltará jamais a ser a mesma, mas o Senhor, quando tira algo, fá-lo somente para dar um dom maior. Depois dos meses em que eu não conseguia suportar a dor e pensava também eu em morrer, o Senhor visitou-me verdadeiramente e cumulou-me de graças, envolveu-me nos seus braços maternos, consolou-me, curou as minhas feridas e, sobretudo, abrandou o meu coração, endurecido pela dor. Tomei consciência d’Ele, do seu Mistério, de sua Presença, do seu Espírito que vivifica a alma, acende o coração e abre a mente ao céu. E na luz que me envolvia totalmente e me fazia renascer o amor e a esperança, reencontrei a Camilla. A igreja converteu-se no lugar privilegiado de nossos encontros, um momento sublime de espera, de diálogo, de união, porque se o corpo aproxima, o espírito vai muito além, une, finde, confunde. A morte da minha filha Camilla fez-me encontrar Deus. Ou melhor, a minha verdadeira vida começou quando Deus irrompeu nela.
Como é possível dar graças a Deus pelo suicídio de uma filha?
-Bassanetti: Existem verdades que o Senhor escondeu no intimo do nosso coração, que requerem todo um longo caminho na escuridão, exigem toda a fadiga de uma busca, até o encontro com Ele. Para reencontrar os filhos no Caminho verdadeiro, a Verdade nos diz que ó existe um caminho: «Se alguém quiser me seguir, negue-se a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me» (Lucas 9, 23). É importante não ter medo da dor. Ainda que seja aguda e aparentemente incontida, nenhuma noite é tão longa que não permita a chegada de um novo dia. Ainda que o caminho a percorrer seja longo e difícil, é bom não se deixar aniquilar pela dor, senão respeitar os próprios estados emocionais, secundando as exigências interiores que, pouco a pouco, se manifestam. Não se pode correr, pulando etapas importantes que são um fundamento necessário e construtivo para a pessoa e para toda a família.
Imagino que esta experiência terá mudado também seu modo de trabalhar...
-Bassanetti: Certamente. O objectivo já não é só o bem-estar, a saúde daquele rapaz ou moça, ou adulto que certamente são sempre importantíssimos. Juntos buscamos o encontro com Deus, a salvação pessoal, na liberdade das escolhas e no respeito das linguagens pessoais. A experiência dolorosa que vivi com Camilla ajuda-me a que nenhum outro sofra as suas próprias penas, e isto ofereço pela sua intercessão, em favor de todos os jovens de algum modo necessitados, e estou segura de que ela, junto com os jovens que estão no céu com ela, está intercedendo por mim.
Fonte: Zenit

1 comentário:

  1. Não deve haver sofrimento mais atroz que se sobreponha à perda de um filho! Já senti algumas vezes, por simpatia, o que possa ser um vislumbre desse tormento e choro com elas, mesmo sem as conhecer.

    Todos nós temos a nossa cruz, mas há cruzes e cruzes; porquê, não me é dado saber. E algumas são bem pesadas, por vezes parecem de chumbo e já tive vontade de atirar a minha ao chão e virar as costas.

    Mas, enfim, os desígnios de Deus são insondáveis e os seus caminhos tortuosos.

    Também já mergulhei na escuridão e tive momentos de grande sofrimento, vi-me abandonada por todos, barafustei contra Deus, chorei em dois anos mais que em toda a minha vida e só não me atirei p'ró abismo porque acreditava que acabava um sofrimento e começava outro pior - que dilema! E tudo por culpa minha. (Nem vale a pena pensar mais no caso, porque já tudo passou, já lá vão uns anos, mas ainda não consegui perdoar, de todo, a quem me causou tantos tormentos. Quem sabe, um dia… é uma etapa que ainda tenho de percorrer).

    A minha fé era débil, estava por um fio, tal como a minha vida, mas no fundo do meu ser eu implorava a Jesus que viesse em meu auxílio, e Ele não me ouvia. Até que tive a sorte de me deparar com uma viagem a Israel e, mesmo de rastos, lá abalei com os outros. Percorri os caminhos de Cristo, a minha fé fortificou-se e, por milagre, a minha vida começou a pouco e pouco a melhorar e consegui erguer-me.

    Descobri que o remédio tem de ser proporcional à doença e que só o sofrimento é essa prova de fogo que nos proporciona a perfeição.

    Porisso, tal como essa mãe, não devemos desesperar, porque só se consegue sair da escuridão e ver a Luz, quando chegar o momento certo - como a queda de Paulo no caminho de Damasco.

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