A festa dos Fiéis Defuntos mobiliza, geralmente, muito mais gente do que a Festa de Todos os Santos... De facto, a morte diz mais às pessoas do que a santidade, porque a morte atinge toda a gente - quer queira quer não - ao passo que a santidade atinge pouca gente - apenas aqueles que querem...
E, infelizmente, o que mobiliza as pessoas no dia 1 de Novembro não é santidade nem a fé no mistério da morte cristã, mas o simples confronto pagão com o realismo da morte pagã, que mata a vida. Por isso mesmo nestes dias:
- anda-se mais pelos cemitérios do que pelas Igrejas;
- pensa-se mais na morte dos mortos, do que na "vida" dos fiéis defuntos;
- pensa-se mais nos que partiram e já não se podem converter à santidade do que nos que ficaram que ainda se pode e devem converter;
- fala-se e celebrar-se mais a vida dos mortos do que a morte dos vivos.
Se nós, como cristãos, vivessemos cristamente, não deveriamos ter medo da morte; deveriamos alegrar-nos mesmo com ela... Tem medo da morte quem tem pena de deixar o mundo... Tem medo da morte que ama mais o mundo do que a Deus...
Já agora porque não pensar nisto?
Sr. Padre, tudo isso que diz é bem verdade e sintomático dos momentos conjunturais em que vivemos. Mas olhe, quando me ponho a dizer às pessoas que o corpo é apenas matéria em decomposição e o que vive para além da morte é a alma, e que a romaria aos cemitérios pouco me diz e importa-me mais rezar pelas almas do que levar flores, que se calhar em vida não ligaram tanto ao falecido como deviam, etc., e etc., olham-me de soslaio como se eu fosse uma desalmada sem coração.
ResponderEliminarNeste culto há muito paganismo, infelizmente, e é muito difícil abordar o tema da morte sem ferir susceptibilidades. Sei lá, se me falecesse alguém muito querido, se calhar entrava em grande depressão e passava os dias metida no cemitério a curtir mágoas e a matar saudades; mas de preferência, punha-lhe só velas.
Não obstante, o que entendo é que uma coisa não exclui a outra e cada coisa a seu tempo e no seu devido lugar. Venerar os Santos é bom e necessário para nunca perdermos de vista esses modelos exemplares que devemos imitar, e o essencial, quanto aos nossos semelhantes, é não descurarmos, no dia-a-dia, o apoio e entreajuda que devemos aos vivos, enquanto vivos, pequeninos gestos que alegram o coração e dão ânimo para que eles e nós possamos ser melhores. Esperarmos que eles morram para os dignificarmos e nos sentirmos com remorsos pelo que devíamos ter feito por eles e não fizemos, são lágrimas derramadas em vão. Mas ao menos tenhamos em conta que eles vivem para além deste mundo miserável e precisam das nossas orações.
E quanto á sua última interpelação: eu, como cristâ, vivo cristãmente e não tenho medo da morte?
Eu lá dizer, digo-o e afirmo-o; e sinto saudades metafísicas do Céu. Mas bastou-me um "pequeno incidente" para me derrubar tantas certezas. Mesmo assim, ainda bem! Não podemos ficar estáticos nem anquilosados nos nossos conceitos existenciais e julgar-nos donos de uma fé inabalável. Precisamos de incessantemente nos interrogarmos, para nos repormos e nos refazermos sempre novamente.
Nem por acaso, na noite que precedeu o dia de Todos os Santos, tive um sonho curto, mas terrível. Encontrava-me numa enorme casa, e deambulava, com mais duas ou três pessoas, numa grande sala vazia. Entra de repente um militar, tipo nazi, de metralhadora na mão para nos matar. Eu estava perto da porta aberta e quando ele se vira para os outros, ficando de costas para mim, eu desato a fugir e fugi, fugi e invadia-me uma ângústia enorme, uma sensação única e peculiar, que só deve ser sentida perante a eminência da morte. Ai, que sensação tão angustiante, meu Deus!
E acordei. E uma vez acordada, interpretei o sonho como uma mensagem divina. E porquê? Tudo me veio à cabeça naquele momento. Imaginar que faço e fazê-lo realmente, vai um salto de abismo. Muitas vezes penso que conseguia morrer como "mártir" em defesa da minha fé, se preciso fosse. E comecei a falar cá p'ra mim:
"tás a ver, afinal és uma grande cobardola! Perante a eminência da morte, sobrevinha-te tal pânico e ângústia, que para não te matarem, tu serias capaz de renegar a tua fé e a Cristo e todos os Santos, não uma, nem duas, nem três, mas tantas quantas as vezes que fossem necessárias. Deixa-te de bazófias e reduz-te à tua insignificância. P'ra conseguires essa heroicidade, que só aos Santos é destinada, precisavas de palmilhar muito caminho. Faz o pouco que podes, de acordo com as tuas limitações, e da melhor forma que deves, e Deus não te pede mais".
Mas lá que gostava, gostava!
Não será a própria "igreja" a considerar que esta vida que temos de nada vale!?!... não considera a igreja, que só após a morte encontraremos o reino dos céus...(???)... o sr. como padre não conhece o conteúdo dos 4 envangelhos?!?...(dos outros provávelmente não)
ResponderEliminarE permita-me corrigi-lo, independentemente do sim/não será que ainda não percebeu que iremos votar por melhores condições de segurança e higiéne para as mulheres deste país...porque os abortos esses vão continuar a ser feitos, em clinicas para quem pode ou no vão de escadas para quem não pode... mas estas são mulheres reais, "deusas férteis" e não icones estéreis fecundadas apenas por dogmas teológicos ...(de certezas inquestionáveis!!!)
Se a "igreja" leva 2000 anos a vedar e não reconhecer os direitos que "Deus" concedeu ás mulheres, porque razão vem agora opinar num assunto que não conhece... pecado é ver essas mulheres em sofrimento num hospital, porque certamente nenhuma delas abortará por prazer ou desporto... pecado é ver uma criança passar fome... pecado é ver uma criança maltratada e desprezada...
Para que não fique com uma ideia errada sobre a minha posição dir-lhe-ei que concedo o beneficio da dúvida áqueles que decidem e optam por interromper voluntáriamente... a esperança.