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sexta-feira, março 09, 2007

O que um leigo espera do sacerdote (Michael Albus)...

  • Muitos sacerdotes são meus amigos; outros constituem para mim um enigma, porque não sou capaz de saber e discernir porque é que foram sacerdotes. Poderiam ter sido directores de uma empresa, bancários, pequenos comerciantes... A mim não me compete emitir juizos, porque estou seguro que Deus vê o que eu não vejo. Mas tenho expectativas (porque tenho experiências). Conhecço sacerdotes que se vivem "uma vida boa": vinho, mulheres, eventos culturais (ou que se consideram como tais), têm móveis de luxo, compram automoveis de gama alta, vão aos melhores restaurantes...
  • Conheço sacerdotes que são puros tecnocratas do poder, não do poder espiritual, oh, oh, mas do poder administrativo, do poder organizativo. Quando os vejo, não consigo pensar que estão "ao serviço dos mais fracos e dos mais pobres". Estão ao serviço dos grandes senhores da política, da sociedade e da Igreja! Dá-me medo a sua frieza glacial.
  • Conheço sacerdotes, cujo ideal, se tem algum, é não serem identificados como tal. Querem permanecer no anonimato. Alguns fazem isto - tenho que admiti-lo - por razões que são compreensiveis: não querem continuar a ser "o senhor prior", o "senhor abade"; o "reverendissimo"... Mas às vezes fazem isto por terem medo de não estarem à altura das esperanças que nós depositamos neles quando os reconhecemos como sacerdotes.
  • Conheço sacerdotes que olham para os leigos como pessoas que não são tão "santas" como eles. Aos leigos utilizam-nos, de vez em quando, como figuras do tabuleiro de xadrez pastoral. Há clérigos que se servem de nós, os leigos, como se fossemos um "material" nas suas mãos. Algumas vezes assunstam-se quando lhes digo que não podem fazer o que eles querem, porque tenho familia.
  • Conheço também sacerdotes a quem posso dirigir-me quando tenho vontade de escutar umas palavras que me dizem com naturalidade e sem segundas intenções; quando quero que me escutem realmente e não estão constantemente a escutar-se a si próprios. São sacerdotes que não colocaram uma placa à porta da casa paroquial: "Horas de atendimento: das 11 às 12 e das 16-17. Rogamos que que venham neste horário, a não ser em casos de urgência".
  • Conheço sacerdotes que, no meio de uma sociedade opulenta e satisfeita, vivem com simplicidade; não se vestem como "maltrapilhos", mas também não vestem trajes de luxo ou gravatas caras. Não se envergonham de fazer as tarefas da casa nem vacilam quando é preciso cuidar das crianças de uma família....
  • Conheço sacerdotes que quando dizem "irmãos e irmãs" o dizem de verdade e são dignos de crédito, porque estão persuadidos do fundo do coração que são irmãos de todos! Mas vejo muitos outros que não estão imbuidos do espírito do Novo Testamento. Em muitas casas paroquiais observo uma vida demasiado burguesa e demasiadas barreiras e comodidades... A alguns desses senhores fazia-lhes muito bem passar uns quantos meses com alguns colegas num cidade pobre do terceiro mundo ou até nos bairros periféricos de algumas grandes cidades, sem agua corrente, sem todas as comodidades. Essa experiência bastaria... Não estou contando histórias, mas realidades!

4 comentários:

  1. Fazendo bem as contas, parece que é fifty-fifty.

    Bem, para já, regozijemo-nos ainda, pois temos "ainda" metade do Clero no bom caminho. Mas o Caminho se vai "estreitando" à medidas que os tempos passam...

    "Não temais, pequenino rebanho"!

    Eu também conheço alguns clérigos dos dois lados da barricada.

    Por uns, nutro admiração e respeito, em cujos semblentes e vivências eu posso ver a verdadeira face de Cristo;
    Pelos outros, quando olho para eles, a minha primeira atitude é pedir perdão a Deus, pois já sei a priori que vou pecar e pecar em pensamentos.
    Claro que sempre coloco a hipótese de poder estar errada, mas...também entendo que "quem não quer ser lobo não lhe veste a pele".
    Ou será que estou certa? e quando os vejo paramentados e em (falsas)posturas piedosas me lembro que são mas é "lobos vorazes com pele de cordeiro"!

    De todo em todo; enquanto que com os primeiros eu me sinto confortada e reforçada na Fé, os segundos nem porisso ma conseguem tirar.

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  2. Gostei de ler este texto. Parece-me sério, colocando as questões com sinceridade.
    Realmente precisamos de padres mais santos, mais autênticos, mais servidores do serviço, não "funcionários do serviço"!
    Por outro lado, magoa-me que ainda não tenhamos percebido que os leigos tb são Igreja, tb têm de ser santos, também têm de ser autênticos e servidores! Na Igreja, o MODELO é Cristo! Cristo nunca falha, nunca engana, nunca desilude.
    Às vezes dá a ideia de que somos cristãos por causa do padre! Quando assim é, a desilusão pode sempre surgir!
    Depois, exige-se tanto do padre como se ele fosse um Deus! Chego a pensar que, pelo modelo de padre apresentado por certos pregadores e por muitos leigos, São Pedro nem sacristão teria sido, quanto mais Papa!
    Ou serão restos de um clericalismo que tarde a extinguir-se???

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  3. Olá Irmão inquieto,
    há uma semana atrás um grupo de padres pegou nesta carta para a trabalhar na sua revisão de vida em grupo e na sua reflexão pessoal...

    ela é provocadora, desafia a ir ao essencial , vem de encontro(denunciando) algumas realidades que Tu e eu certamente conhecemos,aliás, nela todos somos incluídos! e é muito oportuno ler e reler este escrito, de um modo particular, neste tempo em que mais intensamente nos preparamos para a Páscoa...

    mas também é importante não esquecer alguns aspectos:

    a carta não se entende por si só, é preciso ler o livro onde ela está "anexada",

    sem isso esta carta pode ser muita coisa, pode ser até entendida como um belo "poema-desabafo" de alguém que pensa que os padres têm de ser super-homens...

    Depois não podemos esquecer a origem do autor, há situações alí descritas que tem (apenas)contexto na Igreja alemã...

    por outro lado,

    quando é que começamos (também) a publicar cartas que nos falam daqueles padres tantas vezes esquecidos, que de uma forma simples, e muitas vezes no meio da solidão, do isolamento...e de tantos outros dramas, lá continuam, às vezes até com "pouca teologia", mas com uma fé, sabedoria e profundidade inquebrantáveis a fazer daquele pequeno rebanho (e aqui não é só no sentido biblico!), de gente de quem ninguém quer saber senão quando é verão ou dia de festa, este povo de quem o Senhor não se esqueceu...

    é bom que aos padres não se lhes aponte só o dedo mas que se lhes dê também a mão.


    a Igreja é Povo de Deus, Convocado para participar no Amor Trinitário e para o anunciar com alegria e fidelidade em cada tempo, a todos os tempos...

    e nisso todos somos
    (co)responsáveis!

    de um padre eu espero muito, espero tudo...espero sobretudo que esteja disponível para aprender e para crescer com os irmãos.

    mas também o espero das crianças e dos jovens, dos adultos e dos idosos, do bispo e do presbitério, dos casados, solteiros ou viúvos, dos crentes e não crentes, dos que duvidam e dos que acreditam...

    ...espero tudo de todos estes porque espero em Deus e com Deus.

    e que esperas Tu dos leigos, padre inquieto?


    Um padre também "inquieto"

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  4. Este texto deveria ser lido e meditado por muitos e muitos padres. É o luxo pessoal, a barreira que coloca entre ele e o paroquianos,casas paroquiais cheias de luxo e comodidades,paroquianos favoritos(com dinheiro e diploma,de preferência ) Isto não é um pastor. Na verdade todos deveriam fazer uma passagem por paroquias pobres, necessitadas, onde podessem prestar um serviço de guardador de rebanho.
    Muito mais haveria a dizer.

    Paroquiana Inquieta

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