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sexta-feira, outubro 07, 2005

SINODOS DOS BISPOS: abordagens divergentes aos grandes problemas da Igreja

Ao longo destes primeiros dias do SINODO DOS BISPOS, os vários intervenientes têm partido do tema genérico, “Eucaristia: fonte e cume da vida da Igreja”, para lançar um olhar sobre o mundo contemporâneo. Nele detectam a perda do sentido do sagrado, a crise de valores, a secularização, a destruição da natureza, as injustiças e desigualdades sociais, que desafiam a Igreja.
A estas questões juntam-se questões internas, de não menor importância, como as falhas na vida litúrgica e na celebração do Domingo, a crise de vocações, a situação dos divorciados, as dificuldades no ecumenismo, a falta de compreensão do mistério eucarístico, a incapacidade de transformar o homem.
Perante a pressão mediática que, apesar dos trabalhos decorrerem à porta fechada não se deixa de fazer sentir, os Bispos já deixaram claro que não passam de “falsas expectativas” as ideias de mudança veiculadas pela comunicação social, sobretudo no que se refere às questões relacionadas com o celibato dos padres.
Sobre a possível ordenação de homens casados (viri probati) o relatório (apresentado pelo Cardeal Angelo Scola, Relator Geral do Sínodo) sublinha que o celibato tem como base “profundos motivos teológicos”, apesar de reconhecer que a crise vocacional assume “proporções extremamente graves” de que são testemunhas numerosos Bispos.
O Cardeal Scola defendeu o “valor profético e educativo do celibato” e sustentou que a Igreja não pode resolver esta questão “como uma empresa que se tem de dotar de uma determinada quota de quadros dirigentes”.
Esta intervenção serviu como ponto de partida para muitas outras, com os participantes a pronunciarem-se em diversos sentidos, preocupados com a falta de padres nas comunidades cristãs.
  • Esta manhã, por exemplo, o Cardeal Nasrallah Pierre Sfeir, Patriarca de Antioquia dos Maronitas (Líbano), que admite ao sacerdócio homens casados, diz que essa prática “resolve um problema, mas cria outros graves”, como a impossibilidade de transferir um padre quando a família não pode segui-lo.“O celibato é a jóia mais preciosa do tesouro da Igreja Católica”.
  • Em sentido diverso se manifestou o Bispo Denis George Browne, da Nova Zelândia, que pediu à Igreja abertura para “encontrar modos para que a Eucaristia seja de fácil acesso a todos os nosso fiéis”. O prelado deixou ainda votos de que o Sínodo seja sensível às perguntas dos fiéis que se interrogam “porque pode ser ordenado como sacerdote católico um padre casado na Comunhão Anglicana e os sacerdotes dispensados do voto do celibato não podem desempenhar qualquer função pastoral”.
  • Gregório II Lahan, Patriarca da Igreja Oriental de Antioquia, dos greco-melquitas católicos, lançou um desafio aos Bispos do Ocidente ao perguntar-lhes "onde encontram o fundamento ao celibato dos sacerdotes?". Segundo Gregório II , o celibato dos sacerdotes não tem nenhum fundamento teológico, citando a esse propósito os exemplos presentes na Igreja Antiga.
  • A discussão, contudo, subiu verdadeiramente de tom na quinta-feira, com uma sequência de intervenções inteiramente dedicadas a este tema. O Bispo coadjutor de Wabag, na Papua Nova Guiné, colocou em cima da mesa uma proposta de alteração no tipo de formação sacerdotal adoptado nos Seminários daquela região. Segundo D. Arnold Orowae, o isolamento das populações questiona “o tipo de sacerdotes” existentes. “Será que são necessários anos de formação intelectual em filosofia e teologia para realizar os serviços necessários aos mais pobres nas zonas isoladas, que não têm a mesma preparação intelectual?”Para o prelado, a questão seria resolvida se se colocasse um ponto final no celibato dos padres. “Será que a Igreja não deveria permitir uma formação fundamental a cristãos maduros, com uma fé sólida, comprometidos, para que pudessem presidir à celebração eucarística? “
  • Numa resposta acalorada, o presidente da Conferência Episcopal dos Países Baixos discordou peremptoriamente desta proposta. O discurso do Cardeal Adrianus Simonis, que foi proferido logo de seguida, acabou por ser uma advertência “contra as influências e impulsos externos de um mundo secularizado e individualista “. Para o Arcebispo de Utrecht, “as mudanças estruturais, como por exemplo o acesso de homens casados ao sacerdócio, não parecem ser a solução” do problema apresentado.
  • O Bispo moçambicano Lúcio Andrice Muandula, da diocese de Xai-Xai, procurou uma abordagem mais pragmática, apresentado como solução “a justa redistribuição dos sacerdotes no mundo”, para fazer face à falta de padres. Mesmo esta solução, contudo, pareceu desagradar aos padres sinodais e o cardeal Sfeir frisou que “enviar sacerdotes para um país onde eles fazem falta não é uma solução ideal, porque não se têm em conta as tradições, os costumes e a mentalidade, pelo que o problema permanece em aberto”.

Outro dos temas que tem dominado as intervenções é a ligação entre a fé de cada fiel e as suas consequências na vida pública. Os participantes no Sínodo sentem que a Eucaristia é, cada vez mais, um acontecimento sem impacto maior na vida das pessoas e que esse facto destrói a relação concreta entre o quotidiano e aquilo que se celebra. Esta ligação das questões sociais à vida dos fiéis marcou uma intervenção do sucessor de Joseph Ratzinger à frente da Congregação para a Doutrina da Fé.

  • O Arcebispo William Joseph Levada frisou que o voto em políticos que apoiem o aborto “é pecado”, escolhendo este exemplo para iluminar a relação entre a Eucaristia e a Moral.
  • O presidente do Conselho Pontifício para a Família, Cardeal Alfonso López Trujillo, insurgiu-se esta manhã contra projectos legislativos que, em vários países, “colocam em grave perigo o Evangelho da vida e da família”. O Cardeal criticou as “posições ambíguas” dos legisladores que se afirmam católicos sobre o divórcio, as uniões de facto ou o matrimónio.“Pode permitir-se o acesso à comunhão eucarística dos que negam os princípios e os valores humanos e cristãos?”, interrogou o membro da Cúria Romana.

A situação dos divorciados que voltaram a casar também tem merecido uma grande atenção da assembleia sinodal, tendo o Arcebispo neozelandês de Wellington sugerido mesmo que os divorciados recasados pudessem voltar a comungar. “Enriquecíamos as nossas Igrejas se pudéssemos convidar os católicos comprometidos, e actualmente excluídos da Eucaristia, a voltarem à mesa do Senhor. Aqueles cujo primeiro matrimónio terminou de forma triste”, mas que “nunca abandonaram a Igreja”. O prelado disse mesmo que “o Sínodo deve ter um enfoque pastoral” e que, por isso, “há que avaliar as formas de incluir aqueles que têm fome do Pão da Vida. É necessário enfrentar o escândalo daqueles que têm fome do alimento eucarístico, tal como se deve encarar o escândalo da fome física “.

7 comentários:

  1. Parece que os srs. Bispos parecem surdos aos gritos do Espírito. A ala conservadora retrógada toma peito... Se as situações pastorais, culturais, e eclesiais são tão diversas, porque não admitir uma sã diferença de práticas? - Procura-se uma vez mais a unidade na uniformidade. É preciso lembrar as sábias palavras de Agostinho de Hipona: "Unidade no essencial, liberdade no duvidoso e em tudo caridade".
    Pelo que vejo o celibato um dia destes será dogma de fé, embora os bispos orientais estejam em desacordo... Enfim, valha-nos Deus, que é quem pode!

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  2. Completamente de acordo com o comentário anterior.
    Com mais tempo e lá para o fim do Sìnodo espero pronunciar-me mais detalhadamente sobre o mesmo. Para já, vou rezando...

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  3. Padres Inquietos:
    Infelizmente, cada vez divergem mais as opiniões (nem sempre amenas ou positivas) dos Bispos, não só estrangeiros mas também portugueses, inclusivamente no Sínodo convocado pelo Papa (caso vertente), que deveria ser discreto, profícuo e exemplar) sobre os grandes temas e problemas da Igreja (para já não falar nos médios problemas, que frequentemente também degeneram em grandes, ou aparentemente volumosos e preocupantes, sobretudo pelas interpretações erróneas/contestárias que geralmente nascem daí (quais ervas daninhas), mormente entre certos fiéis, e até mesmo alguns padres, menos conformistas e/ou mais progressistas, o que não é nada saudável, nem sequer assaz cristão, convenhamos, pelo que, de quando em vez, criam-se mais desentendimentos do que unanimidades, mais contendas dos que soluções eficazes e duradoiras...
    E o bom exemplo, muitíssimo mais na Igreja do que na política, deveria vir sempre de cima, a partir dos Cardeais e Bispos, principalmente os da Cúria Romana, que constituem, ou deveriam constituir sempre o braço direito do Santo Padre...
    Vamos lá a ver se Bento XVI consegue impôr mais ordem e disciplina nos Bispos em geral e no Sacro Colégio em particular. Deus queira.
    J. Mariano

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  4. Mariano

    "cada vez divergem mais as opiniões (...) o que não é nada saudável, nem sequer assaz cristão"

    Porquê? Em que se baseia para querer unanimidade? Jesus disse para nos amarmos uns aos outros mas não me lembro que tenha dito para termos todos a mesma opinião.

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  5. CA e demais Irmãos:
    Eu não quero, nem tenho bastantes motivos para sequer desejar que haja "unanimidade" religiosa ou espiritual (tal como psicológica, filosófica ou política); o que seria um absurdo, dado que cada indivíduo é um mundo, uma personalidade única, irrepetível e complexa, que só Deus sabe o que lá vai e porquê configurou assim as pessoas...
    Não é nada disso que eu contesto, ou que está em jogo, e acho que sabes perfeitamente onde pretendo chegar... Mas uma coisa é certa quanto à Bíblia e quanto à Lei de Deus (quanto à Doutrina Oficial da Igreja, como Magistério Petrino), ou seja, quanto ao papel de "árbitro supremo", não de cada uma das igrejas cristãs (não pode haver várias Verdades, ou interpretações erráticas/ambíguas/abusivas, ou rebeldes, embora possa haver várias tendências/sensibilidades/opiniões relativas, dentro de certos limites)..., mas concretamente da Igreja Católica, o caso vertente...
    Repara só no seguinte: Se para Deus fosse indiferente que houvesse interpretações da Sagrada Escritura (Palavra de Deus), ao gosto de cada qual, segundo as opiniões e/ou caprichos pessoais, como infelizmente tantas vezes acontece, ao arrepio das Leis Divinas (e até mesmo humanas, baseadas na ética e na moral...), por que haveria necessidade de, por exemplo:
    a) Deus "castigar" o Seu povo escolhido (aliado), quando ele se comportava mal ou traía o mesmo Deus?
    b) O Verbo Eterno encarnar, descendo à decaída/indigna natureza humana, para ensiná-la, purificá-la e morrer pela salvação eterna da mesma Humanidade?
    c) O Divino Mestre Jesus disse/prometeu ao seu primeiro sucessor/delegado na Terra, o Apóstolo Pedro, e por ele a todos os seus legítimos sucessores/e dos doze Apóstolos: "Aquilo que ligardes na Terra será ligado no Céu, e o que desligardes será igualmente desligado no Céu" (ou seja: autorizado/desautorizado; perdoado/retido)...; acrescentando, para confirmar/elucidar o que acabava de anunciar inequívoca/solenemente: "Quem vos ouve a Mim ouve, quem vos despreza a Mim despreza" (isto é, quem vos obedece e respeita a Mim obedece e respeita, etc., a começar naturalmente pela interpretação/actualização da Doutrina Sagrada, com a inspiração do Espírito Santo)...
    É só este género de "unanimidade/fidelidade" que desejo para a "minha" Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica (segundo o Credo dos Apóstolos / Concílio de Niceia), segundo a palavra "infalível" do actual Pedro, o Papa, com todos os Bispos a ele unidos, e de acordo com a interpretação correcta/hermenêutica das Sagradas Escrituras, assim como da Sagrada Tradição..., o que apenas cabe aos mesmos sucessores legítimos dos Apóstolos (os Bispos católicos perfeitamente unidos ao Santo Padre, isto é, em plena comunhão com ele), e a mais ninguém, a menos que o Papa delegue noutra pessoa ou entidade religiosa, e jamais noutra igreja não católica (deduzo e creio eu), e jamais contra qualquer Verdade bíblica fundamental, ou oposta à própria Fé católica/apostólica (isto é, contra a Vontade do mesmo Deus em Cristo Nosso Senhor)...
    Um abraço.
    JM

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