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domingo, outubro 16, 2005

ONDE ESTÁ O ABORTO?

No excesso de ruído que nos invade está instalada a confusão geral sobre o aborto. Desde as variáveis de nome para atenuar agressividades ou acentuar perspectivas ideológicas, passando por alterações no enfoque da duração do feto, início de vida, até à definição de vida humana, pessoa, licitude e descriminalização. E nada disto é simples nos envolvimentos filosóficos, biológicos, legais e humanos que acarreta, seja qual for a opinião de quem, em última análise, suporta as consequências últimas desta complexa teia: a mulher. Ou melhor, a vida inocente que em nada disto tem a palavra, como não teve na chamada à existência.
Estamos perante uma situação humana que não pode flutuar ao vento dos humores e engenhos políticos circunstanciais que engrenam, com jogos de poder, estratégias de agenda política ou cartazes de comício. A vida humana é, em si, suficientemente sagrada para se preservar de gritarias e falácias, onde se diz mais o que convém dizer, do que aquilo que mais respeita a pessoa.
Andámos, nos últimos tempos, com atabalhoamentos de calendário do Referendo sobre o aborto, sem o povo perceber se o que está em causa é o Presidente da República (este ou o próximo), o Governo, as oposições, o tapete político para exigir pronunciamentos que embaracem as próximas presidenciais (já suficientemente baralhadas), com uma pressa enervada em referendar o que o povo já referendou. (Se o povo tivesse dito sim ao aborto, quem se atreveria a exigir agora outro Referendo? Que aconteceu realmente de novo de então para cá, que vicie e anule a escolha popular que já foi feita?).
Sem nada disto resolvido, uma outra questão (lebre?) se levantou: ”decidir o aborto em duas semanas”, como é titulado a quatro colunas na imprensa. E uma chuva de novas confusões cai sobre a opinião pública. A Ordem dos Médicos acha a medida do Governo “bem intencionada mas impraticável”. Outros ginecologistas e obstetras têm diferente opinião, chegando a dizer-se que “seria um escândalo haver médicos que de manhã são objectores de consciência nos hospitais públicos, e à tarde deixam de o ser nas clínicas privadas”.
De que aborto estamos a falar? Já houve referendo e não notámos nada? Já está decidido o que “deve” ser? Já se legisla com presunção de vitória? De tudo isto, o mais grave é desordem à volta da palavra aborto - como se se tratasse duma ligeira indisposição digestiva após alguma refeição mais lauta.
Estamos perante uma questão humana gravíssima – a vida - que se não pode envolver em desarrumações de consciências elásticas, acomodadas a todas as situações.
António Rego

3 comentários:

  1. Felizmente - graças a Deus e ao Tribunal constitucional! - que o referendo esquerdista/anarquista, visando uma eventual discriminalização do aborto (que seguidamente bater-se-iam pela aberrante liberalização!), foi adiado até, pelo menos, ao final de 2006...
    Independentemente de tal resolução provisória de protelamento - um mal menor, mas felizmente bastante positivo e prometedor -, creio em Deus que o tiro sair-lhes-á pela culatra, porquanto o povo português está cada vez mais e melhor preparado e politizado para não permitir, por maioria absoluta, tais barbaridades a favor da livre e impune matança/chacina de inocentes e idefesas crianças ainda por nascer...
    JM

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  2. graças a deus!Mas que enorme Bestialidade! Mas nâo vistes os braços das crianças marcados como animais levados para o forno?Nâo vistes éssas aves horriveis a volta de crianças esquélicas?Podia continuar justo ao infenito!graças a deus que és um animal sem compaixâo

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  3. A Igreja é muito culpada pela quantidade de abortos que se fazem em Portugal. Tiveste outra abertura de espírito, não tornando pecaminoso o uso do preservativo e muitas das jovens que engravidam não ficaria nesse estado. E cadê o papel de quem as engravida? Onde está o manifesto contra os homens que as engravidam? Elas não engravidam sozinhas? Onde é que se fala disso e se discute, sem preconceitos esse mal social?

    Como mulher, acho que não há nenhuma que vá fazer um aborto como quem vai ao cinema; para além do medo físico deverá haver um vazio muito...muito grande. E esse, que cura? E os responsáveis, vão também parar à cadeia?

    Será que a Igreja, a verdadeira Igreja não vê nisto tudo um momento de grande reflexão e piedade, obrigando-se a mudar o discurso das proibições, por forma a que não haja tanto sofrimento e as mulheres que o fazem não sejam presas, ficando os "senhores" na maior, cá por fora?
    Era bom que os padres pensassem bem no assunto e fossem vozes lúcidas a transmitir os sentimentos de desgosto e sofrimento que lhes passam pelos confessionários, por forma a que o discurso fosse o do seculo XXI e não o da Inquisição.
    ões

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