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segunda-feira, dezembro 05, 2005

Crucifixo, haja coerência

A intolerância é uma prova de falta de inteligência e de cegueira. E a demonstração de que a história e a tradição são desprezíveis para certas mentes, tal o ódio que destilam perante a Igreja. Mas como católicos, não é tanto de tolerância que temos necessidade, mas de respeito…

Por António Bagão Félix

1. Há crucifixos (ou simples cruzes) em algumas escolas públicas!
Há que limpar as escolas dos perturbadores crucifixos, clama uma obscura associação e, por reflexo, emite uma circular o Ministério da Educação!
O país acorda, estremunhado, com tal anúncio revelador de "atraso" e de "antimodernidade", em pleno século XXI! Perante este dito problema, que importa tudo o resto neste Portugal feliz e encantado!
Ora aí está o mais decisivo problema da escola em Portugal a cruz! O resto é adjectivo. A reforma educativa prossegue. Outros símbolos e outras manifestações da dita modernidade até podem ser subsidiados. E os pais vão dormir descansados: vai deixar de haver crucifixos em algumas escolas…

2. É recorrente nestas alturas falar-se da separação compulsiva entre o Estado e a Igreja.
A receita para tal intervenção é a habitual o Estado é constitucionalmente laico. No sentido cru e árido da interpretação jurídica até pode ser que possam esgrimir com esta razão estritamente formal e legalista. Porém, a esta nova investida de raiz jacobina subjazem várias falácias.
A primeira é a de que a neutralidade religiosa torna obrigatório um Estado que transforma a laicidade pura e dura numa nova forma de religião. Como há poucos anos a Conferência Episcopal Portuguesa reafirmou em Carta Pastoral, a louvável e imperativa neutralidade religiosa do Estado não pode, porém, transformar este num Estado anti-religião, um Estado confessional de sinal contrário. Um Estado laico, não confessional não é necessariamente um Estado ateu que faz da laicidade uma espécie de nova religião do Estado.
A segunda é a confusão propositada e enviesada entre Estado e sociedade, no sentido de que a laicidade do Estado tem que implicar a laicidade da sociedade.
A separabilidade entre Estado e religião (curiosamente uma ideia que só se concretizou com o cristianismo) não tem que significar necessariamente neutralidade obsessiva, seja por hostilidade activa, omissão, indiferença, abstenção, ignorância, desrespeito ou desconhecimento dos fenómenos religiosos.
A liberdade religiosa não se limita ao plano do direito individual na esfera privada intimista, introspectiva. Exprime-se também como direito social, colectivo, comunitário. É uma liberdade de consciência individual, em primeiro lugar, sem deixar também de corporizar uma liberdade colectiva de expressão, de comunicação, de associação, de reunião. Uma liberdade, porém, que nada impõe aos que não professam a mesma fé.

3. Perante esta determinação de pragmatismo secular do Ministério da Educação, e a título de exemplo, pergunto às autoridades políticas e seus úteis (e às vezes bem subsidiados) satélites laicistas da sociedade

  • Porque há feriados dias santos neste Estado tão laico? Não serão inconstitucionais? Por que razão o Estado colabora na celebração da paixão e morte do Senhor, da sua Ascensão, ou da Assunção de Nossa Senhora? E sendo dias santos, porque se dispensam de trabalhar nesses dias os ateus e agnósticos que não querem crucifixos nas escolas?
  • Porque não são proibidos presépios e árvores de Natal em locais ou estabelecimentos públicos para não ferirem a laicidade do todo-poderoso Estado? Ou será que um crucifixo é mais "perigoso" que a representação simbólica do nascimento de Cristo?
  • Por que razões se vêem autoridades públicas, desde o Presidente da República ao mais modesto autarca, a participar nessa qualidade em manifestações da Igreja?
  • Porque continua o Estado a pavonear-se em cerimónias religiosas como casamentos e funerais e outras manifestações?
  • Porque não acabam com o "serviço público" da transmissão dominical da missa na TV do Estado?
  • Por que razão alguns intolerantes para com a Igreja a utilizam em proveito próprio quando isso lhes convém nas transacções eleitorais ou populares?
  • Porque não proíbem atletas e jogadores das selecções de Portugal de fazerem o sinal da cruz ou de se persignarem pública e abertamente nos seus jogos ou actividades?
  • Porque não acabam com esses cartões de boas-festas natalícias que os ministros, secretários de Estado, directores-gerais e tantos responsáveis do Estado gastam com o dinheiro dos contribuintes?
  • Porque não erradicam das escolas, hospitais, museus e outros locais públicos todos os resquícios de cristianismo ou religiões, desde as chagas de Cristo na Bandeira Nacional até à audição de oratórias, requiem, magnificat e outras músicas sacras?
  • Porque não mandam fazer uma auditoria a todos os espaços públicos para retirar todas as manifestações artísticas, designadamente de pintura, alusivas a Cristo?
  • Porque são estes arautos do pragmatismo secular e da denúncia de qualquer sinal religioso no Estado os primeiros a meter-se na vida intra-eclesial, opinando com "autoridade" sobre o celibato do clero, a não dissolução do matrimónio religioso, o acesso das mulheres à ordenação, etc.?
4. Por aqui me fico. A tolerância não se decreta ou despacha. Exercita-se no respeito pela diferença e por essa realidade fundamental, às vezes tão desprezada, que se chama família A intolerância, por seu lado, é uma prova de falta de inteligência e de cegueira. E a demonstração de que a história e a tradição são desprezíveis para certas mentes, tal o ódio que destilam perante a Igreja.
Sei que está na moda este tipo de actuação. E que, para proteger as minorias, nada melhor que desprezar as maiorias! Mas como católicos, não é tanto de tolerância que temos necessidade, mas de respeito. E como afirmava Jean Guitton, "pretender que se é neutro, que todas as opiniões são verdadeiras, é pressupor que todas falsas. Eis o cepticismo, a cada um a sua verdade e todos estarão tranquilos".
António Bagão Félix, in Diário de Notícias, 4 de Dezembro de 2005

12 comentários:

  1. Como católico, demarco-me completamente deste discurso e desta posição intolerante defendida no texto supra transcrito. Apenas uma questão... Porque não colocar símbolos de outras religiões nas salas de aula? Não vamos confundir cultura e tradição com o que aqui se discute. Sou católico e acho que não devem haver crucifixos nas salas de aula. Para confessar e viver em comunidade a minha religião, compreendo que existem locais, espaços e tempos apropriados; uma sala de aula e aquilo que ela representa, não se enquadra nesta definição. É esta arrogância e intolerância proclamada a sete ventos pelos sectores mais conservadores da Igreja Católica que subtrai o verdadeiro valor do culto que nela se encerra. E é pena que isso mais se note nas alturas em que dar o exemplo seria a melhor atitude. Olhemos para o exemplo de Jesus… numa conjuntura adversa, viveu a fé melhor que ninguém.
    Digo tudo isto sem despeito, porque a religião e fé que professo, não vive da existência de crucifixos nas paredes de um local público, mas no meu âmago... e torna-se pública não na imagem, mas nas minhas acções.

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  2. Conheço mais ou menos o pensamento e postura de Bagão Félix e não me revejo no seu modo de ser Igreja.
    Subscrevo o comentário anterior que acho muito lúcido.
    Acho uma parvoíce o falar-se da "chagas da bandeira" ou do Cristo Rei de Almada, que eu acho de um enorme mau gosto e uma "afirmação" do cristianismo despropositada. Deus é ocultamento. Foi isso que Cristo nos mostrou. Senão, que sentido tem o presépio? Foi só porque calhou? Foi Deus a "brincar" ao faz-de-conta?
    Depois acho de uma arrogância enorme, mas condiz com o autor, o seguinte:"A Igreja não precisa de tolerância, mas de respeito". Isso mesmo nos merece qualquer confissão religiosa, qualquer crente, qualquer homem. O respeito não é um exclusivo da Igreja Católica.
    À Igreja o que falta, é o diálogo aberto, humilde, amoroso, de acordo com o que aprendeu de Jesus Cristo. A arrogância de quem se acha dono da verdade, não fica bem a quem se diz; discípulo do Mestre.

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  3. Sim a MC tem razão. Arrogância e mais arrogância como se fossem os donos da verdade e no fundo são dos mais pecadores porque pregam o que não fazem e pior pregam o que Cristo certamente não teria pregado se tivesse vivido no ano 2005!

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  4. Somos portadores da mensagem do amor de Deus ou da mensagem dos crucifixos na sala? Os católicos em Portugal não têm nada de mais construtivo para oferecer do que fazerem este alarido por meia dúzia de salas de aula com ou sem crucifixos?

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  5. Sou católico e julgo-me tolerante. Mas não entendo porque se hão-de estimular atitudes que são na sua génese o que há de mais intolerante.
    Conto este caso verídico. Um bispo francês tinha uma reunião para que foi convidado numa Câmara Municipal. Como é costume dos bispos católicos foi com uma cruz ao peito. Não o deixaram entrar com a cruz. Para entrar teria de a tirar. E ele negou-se. E não entrou.
    Quanto a mim tomou uma posição de coerência.
    Quem é que foi intolerante? Ele ou os que fizeram tal lei?
    Se não tivermos cuidado, agora vão as cruzes das escolas, daqui a mais proibem as procisões, etc., etc..
    Porque não permitir nas escolas os símbolos de outras religiões, se lá houver alunos com essa profissão religiosa?!
    Se houver alguém que vá contra isso, então acho que esse é intolerante!

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  6. Julgo haver uma grande confusão entre cultura e religião e entre esta e ensino público. São três coisas distintas.

    "E por muito que queiram dizer o contrário felizmente em Portugal, a grande maioria professa a fé da igreja Católica Apostólica Romana."Nathaniel DIXIT

    Primeiro: Parem lá com a teoria da perseguição... em Portugal não se perseguem publicamente cultos, muito menos o da Igreja católica.
    Segundo: o termo "felizmente" foi tudo, menos feliz (passo a redundância)...
    Terceiro: Nunca fui apologista da ditadura da maioria

    "Portugal foi,e é um País católico. Cristão." Portugal até já nem foi Portugal... Para além disso Portugal como Estado, não tem religião.Nathaniel DIXIT

    Se é de cultura que estamos a falar, eu não a esqueço por achar conveniente retirarem crucifixos das salas de aula, da mesma forma que não me sinto culturalmente diminuído por achar conveniente acabarem com as touradas de morte.

    Se é a religião o cerne de toda a questão então aí é que no meu entender de católico, não há mesmo razão para qualquer polémica. Eu até acho que nem deviam ter posto os crucifixos nas salas de aula como propósito de servir o Estado Novo, portanto, a decisão que agora é tomada, já devería ter sido executada faz muito tempo.


    "Afinal que mal faz um crucefixo? Mata? Ofende?. Se fosse fotografias dos ministros e do governo ai já não havia problema!"Nathaniel DIXIT

    Ok... vamos nessa de trivializar um objecto simboliza um culto. Acrescento uma outra pergunta: Que mal tem utilizar um crucifixo como adereço de vestuário? É comum nos nossos dias. Podemos trivializar um objecto, mas não caiamos no erro de o justificar alegando o simbolismo que nele se encerra. Justificar a permanência de crucifixos nas salas de aula recorrendo à religião é trivializa-la e reduzi-la a uma mundaneidade que vem sendo comum nos nossos tempos.

    "Ver para crer" admitiu que se deverá admitir a existência de símbolos de outras religiões nas salas de aula, caso haja alunos a professar outras religiões. Mas que confusão vem a ser esta? A sala de aula é um local de expressão de cultos e religiões, ou serve um outro propósito? Cada coisa no seu devido lugar. E que tal um quadro e giz bem no meio do altar das Igrejas? Absurdo, não é? Em relação à comparação entre a questão dos crucifixos e as procissões, devemos entender que: a primeira é um culto expressado pelo Público e outra é uma expressão pública de um culto. Totalmente distintas.

    Volto a escrever que a fé que professo, não vive da existência de crucifixos nas paredes de um local público, mas no meu âmago... e torna-se pública não na imagem, mas nas minhas acções.

    Se Moisés nos visitasse o povo, acharia que as coisas não mudaram muito desde da altura que regressou do Monte Sinai. O culto dos objectos deixa-nos aturdidos e sem rumo.

    Para além disso, não me recordo que Jesus Cristo tenha entrado no Templo para adorar simbolos, tão apenas para os destruir.

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  7. Ainda não percebi porque é que o Estado republicano tem de ser "laico" ou deixar de ser.
    Acaso os Estados monárquicos, por essa Europa fora, são piores Estados por não se intitularem "laicos"??
    Mas que ideias tão abstrusas!!
    O Srs. F. Louçã e J. Sousa, bem como todos os seus seguidores, fazem o mesmo papel que os Talibans: agora acabam-se com os Crucifixos para mais tarde, passar à fase seguinte: acabar com as imagens e estátuas.
    Pela minha parte, aconselho a que se derrube todos os ícons com as carantonhas dos políticos e outras futilidades nacionais e mundiais (estátuas, fotos, nomes de ruas, etc.) que abundam por todo o lado e poluem a minha mente!!
    E quem se diz católico e acha muito bem esta perseguição aos símbolos cristãos, ou tem falta de inteligência ou vive uma vida de duplicidade e mais não digo para não ser apagada....

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  8. Então nesse caso eu tenho "falta de inteligência ou vive uma vida de duplicidade e mais não digo para não ser apagada...."... ou então acho que isto não se trata de uma perseguição.

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  9. Penso que nestas coisas tem, necessáriamente de haver coerência, e muita... acho que mais importante do que defender a colocação ou não do crucifixo, a tradição de um país cristão, ou então a liberdade religiosa, é observar com serenidade - como Jesus fazia - as asneiras e tolices que nós vamos fazendo. Sou Cristão, Católico praticante e penso que casos como o aqui relatado de um Bispo Francês, sim devem merecer uma profunda reflexão... afinal não é uma cruz que faz de qualquer um cristão... nem é uma revista do "despertai" que faz qualquer outro testemunha de Jeová... o ser algo (cristão ou não) vem de dentro para fora, embora seja naturalmente adquirido de fora para dentro... uso ao pescoço um crucifixo em ouro que me foi dado pelos meus pais ha muitos anos, e para mim ele tem apenas um valor sentimental... o que ele representa, guardo-o e espero continuar a guardar dentro do meu peito... onde ninguém vê!
    Não façamos de por ou tirar o crucifixo numa sala de aula mais uma "intifada fundamentalista"... paremos para pensar e deixemos a nossa natureza e o nosso espírito falar... E se realmente tirarem os crucifixos, por favor não se lembrem depois de derrubar o Cristo Rei de Lisboa ou o do Corcovado no Brasil... para tudo tem de haver conta, peso e medida... e ... bom senso.
    Cumprimentos
    Paulo A. Santos

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  10. E então? Não somos dos países com mais feriados??? O próprio Bagão falou nisso e muito quando era Ministro do Trabalho e da SS!!!

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  11. Teólogos questionam a canonização de João Paulo II


    Roma, 7 de diciembre 2005 - Crónica Digital TEÓLOGOS CUESTIONAN CANONIZACIÓN DE JUAN PABLO II

    Un grupo de teólogos hizo un contundente cuestionamiento al proceso de beatificación de Juan Pablo II iniciado en el Vicariato de Roma.

    El grupo, encabezado por el italiano Giulio Girardi, incluyó al salvadoreño José María Castillo, los españoles Jaume Botey, Casimir Martí, Ramón María Nogués, Rosa Cursach, Casiano Floristán, José Ramos Regidor y Juan José Tamayo; la austríaca Martha Heizer y los italianos Giovanni Franzoni y Filippo Gentiloni.

    Girardi, un experto que participó en la redacción de la Constitución Pastoral Gaudium et Spes, señaló que Juan Pablo II contribuyó a "reprimir a la iglesia popular en países como Nicaragua".

    Los disidentes presentaron siete puntos según los cuales Juan Pablo II no debería ser canonizado; entre ellos:

    1. "La tenaz oposición a considerar, a la luz del Evangelio, la ciencia y la historia, algunas normativas de ética sexual".

    2. La "dura confirmación del celibato eclesiástico".

    3. El rechazo a "discutir en forma seria y profunda la condición de la mujer en la Iglesia".

    4. La "no aplicación" de "normas establecidas por el Concilio Vaticano II para una mayor democracia interna".

    5. La "represión" de los teólogos de la liberación marxista en América Latina.

    En una entrevista con la agencia francesa AFP, Girardi se mostró pesimista respecto de la atención que recibirá el llamado.

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  12. Excelentícimos Senhores Senadores.
    Meu nome é Jean Carlos de Lima,tenho 14 anos e moro em Três Barras do Paraná-PR.
    Quero dar a minmha opinião sobre a lei de tirar as imagens dos estabelecimentos Públicos e comerciais.
    Eu sou contra tirar as imagens, pois as imagens não atrapalham em nada. Se fosse assim deveriam tirar o Cristo Redentor do Rio de Janeiro, entre ourtras...como trocar o nome da cidade de São Paulo que é nome de Santo.
    Fica aqui o meu protesto.
    Atenciosamente umcidadão e futuro eleitor!
    JEAN CARLOS DE LIMA!

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