Não se pode pedir aos que dizem não ao aborto uma linguagem doce e dúbia para não ferir a opinião dos que vigorosamente o defendem até ao absurdo.
O que mais enfureceu os ocidentais na reacção do mundo muçulmano à publicação das caricaturas de Maomé foi a ameaça de cercear a liberdade dos artistas e pensadores. Ou, melhor ainda, o risco que corre quem escreve o que pensa sobre qualquer matéria. A liberdade de expressão sentiu-se ofendida por aqueles que se ofenderam com a expressão da liberdade. Estamos num aparente jogo de palavras. Mais que isso, de interesses, que se refugiam nas palavras para imporem os seus pontos de vista. Assim a ética vai ganhando colorações circunstanciais como o bailarino vai rodando e ritmando o corpo consoante a música o exige.
O que mais enfureceu os ocidentais na reacção do mundo muçulmano à publicação das caricaturas de Maomé foi a ameaça de cercear a liberdade dos artistas e pensadores. Ou, melhor ainda, o risco que corre quem escreve o que pensa sobre qualquer matéria. A liberdade de expressão sentiu-se ofendida por aqueles que se ofenderam com a expressão da liberdade. Estamos num aparente jogo de palavras. Mais que isso, de interesses, que se refugiam nas palavras para imporem os seus pontos de vista. Assim a ética vai ganhando colorações circunstanciais como o bailarino vai rodando e ritmando o corpo consoante a música o exige.
O debate sobre o referendo ao aborto, em Portugal, está a tomar alguns contornos bizarros. Existem áreas sociais e políticas que não têm o mais pequeno rebuço em propa-gandear o seu ponto de vista e o seu terreno claro de luta, com um inequívoco sim ao aborto. Dessas tribunas emerge a sugestão de que a Igreja mudou de opinião e não faz qualquer campanha contra o aborto. E intercala nessa oratória o pressuposto de que a Igreja se não deve pronunciar sobre a matéria, por não ser religiosa. O político na tribuna partidária, parlamentar ou ministerial, pode confessar-se publicamente sobre o tema – com isso fazendo opinião – quando a sua posição é sim. Na Igreja, o presidente duma celebração está “proibido” de dizer o que pensa e o que pensa a Igreja porque isso é fazer campanha. (Há já escritos com essa teoria).
Tanto dum lado como do outro há regras de decência e linguagem que devem pautar os discursos, na apresentação honesta de argumentos e razões pró ou contra. Mas não se pode pedir aos que dizem não ao aborto uma linguagem doce e dúbia para não ferir a opinião dos que vigorosamente o defendem até ao absurdo. A vida concede direitos e argumentos inquebrantáveis. E ninguém que apoie o aborto até às nove semanas e… seis(?) dias, pense que está a apoiar a vida. Chame-se o que se chamar estamos perante uma questão de vida ou morte. Nunca a Igreja em dois mil anos hesitou sobre esta matéria. Reconhecendo, embora, que a questão não é religiosa mas humana. Tal como a pobreza, a violência, a guerra, o racismo não são questões religiosas. Mas têm a ver com o Decálogo.
A liberdade não pode ser coarctada em nome duma imaginária mudança de óptica da Igreja em matéria tão vital.
António Rego
Tanto dum lado como do outro há regras de decência e linguagem que devem pautar os discursos, na apresentação honesta de argumentos e razões pró ou contra. Mas não se pode pedir aos que dizem não ao aborto uma linguagem doce e dúbia para não ferir a opinião dos que vigorosamente o defendem até ao absurdo. A vida concede direitos e argumentos inquebrantáveis. E ninguém que apoie o aborto até às nove semanas e… seis(?) dias, pense que está a apoiar a vida. Chame-se o que se chamar estamos perante uma questão de vida ou morte. Nunca a Igreja em dois mil anos hesitou sobre esta matéria. Reconhecendo, embora, que a questão não é religiosa mas humana. Tal como a pobreza, a violência, a guerra, o racismo não são questões religiosas. Mas têm a ver com o Decálogo.
A liberdade não pode ser coarctada em nome duma imaginária mudança de óptica da Igreja em matéria tão vital.
António Rego
Caro Padre inquieto!
ResponderEliminarEmbora compreenda o acentuar do tema, não acha que já chega de falar de aborto? Sou totalmente pela vida, mas entendo que, como diz o povo, "o que é demais é moléstia"! A saturação leva à desmotivação.
Há tantas, tantas coisas apaixonantes para aqui colocar e discutir...
Eu também já começo a ficar cansada com o tema. Mas, "até ao lavar dos cestos é vindima".
ResponderEliminarE não convém pararmos a meio do percurso, sob pena de o Sim levar vantagem.
Tenhamos paciência e sejamos perseverantes. Neste momento, silenciar, calar, seria o mesmo que retroceder.
Não podemos deixar as consciências adormecer. É preciso, instantemente, denunciar e esclarecer (com alguns intervalos pelo meio, para se ganhar fôlego).
Estaremos perante uma questão de vida ou de morte Padre Rego? Será que a decência (que apregoa) tem outro sentido para si? A vida e os valores éticos não são privilégios de nenhum credo e religião. São uma herança de muitas culturas e de uma longa história do pensamento humano(repito, humano e não divino). Ponha de parte a sua castração humana e teológica e envolva-se com o sofrimento humano... torne-se viajante crítico da complexidade histórica que envolve os nossos tempos e depois opine...
ResponderEliminar"Nunca a igreja em dois mil anos hesitou sobre esta matéria" ??? Dispa a batina clubista que envolve o seu raciocínio histórico e pense...quem sabe!? acabará por descobrir que que a igreja está construida sobre cadáveres... E que "a pobreza, a violência, a guerra..." apesar de terem a ver com o "Decálogo", - são promovidas pelas questões religiosas.