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quinta-feira, março 16, 2006

Nova religião ocidental: Crer sem pertencer a uma igreja ou grupo

Ainda que exista um «boom» de seitas e novas religiões nos países ocidentais, o fenômeno religioso mais extenso é o de quem crê sem pertencer ou praticar uma religião específica, revela o sociólogo Massimo Introvigne, diretor do Centro de Estudos sobre as Novas Religiões, de Turim (CESNUR).
Foi o que o sociólogo das religiões expôs durante o congresso sobre «A natureza da religião em contexto teológico», que aconteceu em Roma, na Faculdade de Teologia da Santa Cruz, nos dias 9 e 10 de março.
«Ouve-se com freqüência falar de uma ‘invasão das seitas’ ou de uma ‘explosão’ das novas religiões. Certamente, os movimentos religiosos de algum modo alternativos são muitíssimos. J. Gordon Melton - que por outro lado rejeita traçar uma linha de demarcação clara entre ‘velhas’ e ‘novas’ religiões - registra mais de 1.500 grupos de uma certa consistência nos Estados Unidos», revelou Introvigne.
«Em um país no qual o pluralismo é mais recente, como a Itália, o CESNUR tem conhecimento de mais de trezentas denominações», disse. «Na África, os especialistas enumeram milhares de novas religiões, e o número cresce a cada dia. Mas em nenhum país do ocidente os novos movimentos religiosos parecem superar 2% da população», assegurou, acrescentando que «na Itália é mais provável que estejam em torno de 1%». «A maior “nova religião” é, portanto, especialmente no ocidente, a de quem “crê sem pertencer”, segundo a fórmula da socióloga inglesa Grace Davie», explicou Introvigne.
Na Itália, por exemplo, segundo os dados da Pesquisa Européia sobre Valores de 2000, os católicos ocasionalmente praticantes são quase um terço da população. «Fica uma população constituída por mais da metade dos italianos que declaram “crer” em algo superior ou transcendente, mas que de fato não “pertencem” a uma comunidade religiosa no pleno sentido da palavra», indicou. «Vai desde aqueles que crêem em um poder superior, que não sabem contudo identificá-lo os “crentes a sua maneira”, “os cristãos a sua maneira” e “os católicos a sua maneira” (“sou católico, mas não pratico”; “sou católico, mas não estou de acordo com a Igreja”; e inclusive --postura não rara na Itália-- “sou católico mas estou contra os padres”), explicou.
Fonte: Zenit

11 comentários:

  1. Crença sem pertença. Bom tema.
    Este assunto faz-me lembrar aquela frase que pareceu profética em seu momento, mas que parece näo se cumprir: "O século XXI será religioso ou näo será nada" (Foi o Claudel que disse ou estou a coonfundir???)
    A crença é a parte fácil. A própria natureza humana a reclama... Mas a pertença exige compromisso. Por outro lado, o desencanto generalizado com as Igrejas institucionais e o individualismo próprio do tempo favorecem esta religiosidade sincrética e fragmentária... Misturam-se muitas coisas.
    Abraço

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  2. Sobre a questão, temos preciosos contributos do Doutor Alfredo Teixeira: "Entre a exigência e a ternura" e "Não sabemos já donde a luz mana".
    Disponível em português está também uma das mais significativas obras de Danièle Hervieu-Léger: "O peregrino e o convertido".

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  3. O problema é que as pessoas até acreditam num ser superior, mas não querem assujeitarem-se a regras daí se dizerem Católicos ou Cristãos mas a "sua maneira"...

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  4. Um esclarecimento:
    A frase "Le XXI siècle sera religieux ou ne sera pas" é atribuída a André Malraux. Embora não haja qualquer prova de que ele a tenha pronunciado algum dia...

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  5. Mas que não nos escape também o fenómeno contrário (reactivo) das reafirmações identitárias, tendencialmente fundamentalistas. Minoritário, é certo, mas igualmente (se não mais) problemático...

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  6. Sintomas dos tempos hodiernos. Cada um, democraticamente falando, é livre e a religião não ficou de fora.
    Muito útil ter uma crença, arrumada na prateleira, que podemos usar quando as circunstâncias assim o exigirem, com a vantagem de que não temos que nos responsabilizar, perante a Religião e a Moral, pelo que fazemos no dia a dia das nossas vidas.
    Quanto às seitas, ui..., haveria tanto a dizer nos seus aspectos económicos, sociais e morais. Oportunistas atrás de ingénuos sempre houve, mas convenhamos dizer que nunca tanto como actualmente. É o safe-se quem puder e a liberdade adquirida faz de muitos, verdadeiros agiotas e sicofantas, que roubam e enganam as classes mais desprotegidas e ignorantes.

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  7. Caro anónimo,
    Muito obrigado pelo esclarecimento.
    Isto de confundir o poeta Paul Claudel com o Malraux será grave? :)

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  8. Caro Manuel,
    Se eu fosse um chauvinista francês, estaria decerto angustiado. :)
    Quanto aos esclarecimentos, só podem ser oferecidos porque anteriormente acolhidos em oferta de outrem...

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  9. A conferência de Massimo Introvigne foi excepcional. Alem daquilo que veio indicado na agencia Zenit, abordou ainda a situação actual dessas seitas em relação à Igreja e outros fenómenos ligados a uma religiosidade que os italianos definem "fai da te".
    Um abraço

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  10. Há uma outra possíbilidade de leitura do fenómeno religioso actual: o pertencer sem crer. Os números do Anuário da Igreja, anteriormente referidos, e que são comuns a outros países, mostram que a maioria das pessoas se identifica sociológicamente com determinada confissão religiosa, mesmo não professando muitos dos seus dogmas nem vivendo segundo a sua moral; e mesmo decrescendo a prática cultual, os cultos e os ritos dessa religião continuam a ser a grande referência, sobretudo para assinalar os momentos fortes da vida privada e pública.

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  11. Eu creio, mas não pertenço. Foi uma decisão tomada depois de uma educação católica. Foi uma decisão consciente. Julgo que a igreja deveria estar mais preocupada com aqueles que pertencem mas que não crêm. Claro que esses não dizem eu sou cristão mas não acredito. Mas a sua conduta deixa revelar uma falta completa de fé e de entendimento do que é Deus. Há muitos crentes fora das igrejas e muitos ateus a comungar.
    Mas uma coisa é verdade, eu sinto-me só na minha espiritualidade. Gostava de partilhar a minha fé com quem não se importasse de eu não pertencer a nenhuma igreja, de eu rejeitar o pecado original, a virgindade de Maria e outros dogmas que fazem dos católicos católicos e não pessoas como eu, com fé mas sem dogmas.

    gonribeiro@msn.com

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