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terça-feira, janeiro 24, 2006

Quem são os donos dos sacramentos?

Ao visitar vários blogs, encontrei esta história veridica que não é muito diferente de muitas outras histórias que nós encontramos no dia a dia da nossa vida de padres. Um dilema se coloca: como agir? Por um lado, temos a pessoa que deve ser amada, respeitada, escutada e acolhida como Cristo fez com tantos homens e mulheres do seu tempo e por outro lado temos aquilo que diz a lei da Igreja.
Quem pensa que para o padre não é um drama, um conflito interior, um sofrimento insuportável... tomar esta ou aquela decisão... Eu, pelos menos, quando não concordo com uma norma, uma lei tento lutar por dentro, dentro da Igreja, na estrutura própria para que se possa avançar... e ninguém pense que não há padres a sofrer, a lutar, a tentar estar mais atentos ao evangelho do que às leis...
Mas vamos à história que contou a MC no blog www.jardimdeluz.blogspot.com
"Um dia, o pároco da minha paróquia, deu-me o recado de que precisava falar comigo. O motivo da conversa, era para vermos da minha disponibilidade para preparar quatro jovens senhoras, que tinham o desejo de receber o baptismo. Deu-me os seus contactos, que eu estabeleci, combinei com todas uma hora conveniente, e lá nos encontrámos. Apresentei-me um pouco, falei-lhes do que era para mim a pertença à Igreja, o acreditar, o testemunhar...
Encontrámo-nos mais duas ou três vezes e espontaneamente, foram falando da sua vida. Uma delas a A. disse que já tinha tido um primeiro casamento, que tinha corrido muito mal, tinha sido uma situação muito dolorosa sobre a qual ainda tinha dificuldade em falar. Mas actualmente, estava a recompor-se, porque entretanto, tinha conhecido alguém com quem estava a viver, agora sim, uma relação equilibrada e feliz. Nos pormenores que foi contando, dizia que para o seu marido também era uma segunda relação, tendo da primeira vez, contraído matrimónio católico. Aí acendeu-se-me uma luzinha de alarme. Caso ela chegasse a ser baptizada, pela doutrina dos sacramentos, não poderia continuar a comungar, porque estava numa situação irregular perante a Igreja. Não lhe disse nada, mas tomei a decisão de falar com o prior. Era uma situação que precisava do acompanhamento dele.
Quando lhe expus o caso, disse-me o que eu já esperava:"Não fazia sentido o baptismo, porque ele é para nos inserir, também na vida da Igreja, e ela não poderia participar na comunhão", a menos, acrescentou: "que ela se convertesse e deixasse aquela relação". Balbuciei:"mas isso não. Não lhe podemos pedir tal coisa. A rapariga vive, depois de tanto sofrimento, uma relação feliz."E entre dentes, murmurei:"caraças de crueldade". Isto na versão soft.
Decidi ali, que era melhor ser eu a falar com ela. À cautela, e pela resposta que recebi, achei que talvez lhe dissesse as coisas de forma que ela se magoasse menos.Assim fiz, num próximo encontro disse-lhe que no final tinha um assunto particular para falar com ela. O melhor que fui capaz expus a situação. Disse-lhe, o quanto me doía, em nome da Igreja, ter que lhe dizer aquelas coisas...acabámos a chorar nos braços uma da outra. Disse-me que ia continuar a vir aos nossos encontros porque gostava muito. Eu sabia isso, porque quando falava, via o brilho nos seus olhos, mas o facto é que nunca mais voltou. Nunca mais me esqueço dela. Nem da dor que lhe causei e que senti como minha".

6 comentários:

  1. Obrigada pelo teu apontamento.
    Estas coisas não são de padres ou leigos, mas da Igreja.
    É missão de todos a fidelidade ao Evangelho.
    Para além dos sentimentos que estas situações nos provocam, há que dar resposta às pessoas e o que é que nos move, quando as damos?

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  2. MAs se o proprio Jesus Cristo amou até ao fim cada um de nós e se acolheu também publicanos, pecadores, prostitutas, porquê essas dúvidas se a Igreja dá ou não determinada directiva sobre determinado assunto...A verdadeira lei é o Evangelho. Não nos podemos esquecer que a Igreja, apesar de formar o Corpo Mistico de Cristo, é feita por homens, portanto tem os seus limites, erros e quedas...
    Abraço em Cristo

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  3. Porque não haveriam os padres de ter conflitos interiores, vontade de alterar alguma coisa, dificuldades em actuar? Antes de se serem padres, são homens. E como tal, incapazes de resolver tudo sem que haja algum conflito.

    Os sacramentos são importantes, mas nos dias que correm, existe uma séria adversidade entre eles e as leis naturais, desprovidas de religião.

    Um beijinho grande *

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  4. Não sei se posso ajudar em alguma coisa..porque esta é uma problemática que encontro no meu dia a dia.
    Entendo que toda a gente tem direito a ser feliz, entendo tabém que a felicidade traz consequências, e precisamos de acarretar com elas, e todos temos o direito de poder mudar de caminho se nos enganarmos...mas também devemos assumir o engano.Esta coisa de regras tem muito que se diga...mas em tudo nós as encontramos..não sei se quando Cristo fala na porta estreita nos quer dizer alguma coisa...então se Ele ama a todos porque não uma porta maior, pelo menos era mais fácil...
    Compreendo e esta é também uma inquietação minha, mas sinceramente não sei o que será mais correcto: negar a aproximação ( e acho que Cristo abriria os braços);deixar aproximar ( e acho que Cristo não os fecharia)...
    Na esperança que novos caminhos nos ajudem a caminhar...vou dizendo que infelizmente não podem comungar...mas Deus continua a ama-los muito...E vejo o sorriso amarelo...como quem pergunta : " Que raio de amor esse??

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