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segunda-feira, setembro 12, 2005

O PADRE é APENAS uma peça do tabuleiro de Xadrez?

Distrito precisa mais 20 padres.
A crise de vocações sente-se cada vez mais no distrito de Bragança, obrigando à reorganização periodica dos 80 padres existentes para suprir todas as necessidades paroquiais. "Com mais 20 sacerdotes teriamos o problema da diocese resolvido", declarou o bispo de Bragança-Miranda, D. António Moreira Montes.
A carência de padres voltou a ser notada durante o processo de substituição do pároco de Carrazeda de Ansiães (91 anos!!!). A sua saída obrigou a uma profunda reorganização... destapou-se de um lado para tapar noutro... (in Jornal de Noticias).

Esta noticia fez-me pensar e queria partilhar convosco algumas interrogações:
  • Que há crise de vocações todos os sabemos. Mas o que a maior parte não sabe é que em Portugal há dioceses ainda com muitos padres e outras "já no limite". A Igreja não será a mesma? Não seria a altura de pensar numa reorganização a nivel nacional?
  • Chegou a altura das mudanças. É preciso reorganizar, redistribuir, mudar. E neste altura muitos problemas se levantam. Quem é que deve ser mudado? Porquê? Quais os motivos que levam alguns a recusar mudar? Se está a fazer um bom trabalho deve continuar ou não? Há também os intocáveis (idade, o estatuto, o dr...). Faz pensar. Será que acreditam que ser padre é uma missão. Mas também é verdade que o PADRE não é uma peça do tabuleiro de Xadrez.
  • As mudanças e a dificuldade em fazê-las leva-me a pensar que é urgente reflectir no conceito de paróquia. Muitas das paróquias de ontem já não deveriam ser paróquias hoje. Para mim, só deveria ser considerada "Paróquia" àquela comunidade ou comunidades que pudessem serem auto-suficientes a nível da evangelização, do culto e da caridade. Ninguém pode exigir se não dá ou não é capaz de dar.

14 comentários:

  1. Esses problemas como me são familiares... Por isso adoptei como lema "Amar e partir!" Deus me ajude a ser sempre capaz de o cumprir!

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  2. Caro padre
    partilho as suas interrogações.
    Achei curiosa a metáfora do tabuleiro de xadrez. Outro dia, em troca de ideias com um amigo, usei essa mesma expressão. Queixava-me eu, de que as nomeações, são muitas vezes para colocar A ou B, e não como respostas às necessidades das comunidades.
    Não creio que se possa manter por muito tempo esta prática de "tapa buracos". É preciso encarar de frente o problema real. Que é este: Ninguém devia ficar sem o anúncio de Jesus Cristo, por falta de meios (padres)
    Sugere, na sua reflexão, como que um castigo para as comunidades menos evangelizadas/evangelizadoras. Mas se não há no seu seio quem pregue, quem anuncie, quem celebre, como é que quer que elas cresçam?
    Será legítimo que privemos tantos irmãos da mesa Eucarística, só porque não há padres suficientes? Porque não somos capazes de ousar que o sacerdócio ministerial tenha outras expressões?
    Por exemplo, no sacramento da reconciliação, que creio é um forte sinal para crescimento na conversão e comunhão com Deus. Na minha paróquia, só quem não trabalhar. Não existe um único horário fora do horário normal de trabalho. Existem alguns tempos perto do Natal e Páscoa à noite, mas onde se vai em massa, não havendo tempo para um tempo de maior proximidade, apenas o habitual "descarregar o saco".
    São tantas as questões que se levantam, que não entendo como se continua nesta pastoral de manutenção, que só pode ser fruto de muita falta de fé, de enorme comodismo...

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  3. Olá mc.
    Ao falar que é necessário reformular, repensar o conceito de "paróquia" não é com o objectivo de castigar ninguém, mas responsabilizar tamém as comunidades e evitar prática do "tapa-buracos".
    Na Igreja o importante são as pessoas e não tanto as instuições ainda que milenares.
    Concordo contigo: "ninguém devia ficar sem o anuncio de Jesus Cristo, por falta de meios (padres)... o sacerdócio ministerial tem outras expressões". É por isso que eu digo que uma paroquia só devia ser considerada paroquia quando é capaz de continuar a anunciar Jesus Cristo, quando dela própria surgem outros ministérios.
    Não concordas comigo que há paróquias que só querem o padre por uma questão de prestigio ou apenas para dar resposta a um determinado conceito de religião?
    Já reparaste em quem é que está por detrás das movimentações para este ou aquele padre sair ou não sair de uma determinada paróquia?

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  4. Padre,
    obrigada pela tua resposta. Olha, trato-te também por "tu". Na net, não há "rugas" (ainda bem para mim) :)
    Quanto a este assunto do teu post, acho-o de extrema relevância na vida da Igreja. É importante para os padres e para as comunidades.
    Dizes no teu comentário que "o importante são as pessoas, não a estrutura". Concordo inteiramente. Nem sabes como me dói ver, sobretudo padres, esmagados pela estrutura. E os que, para fugirem a isso, vão perdendo de vista o sentido da sua vocação e agem como verdadeiros funcionários.
    As comunidades, olha, são como são. Na actual estrutura de paróquia e prior, onde as pessoas, estão à espera que o padre seja um ser "superior", que tem de ter todas as qualidades humanas e mais umas tantas sobrenaturais... É obra. O problema é que não vejo muita vontade dos padres para dismistificarem isso. Gostam de se sentir assim. Desculpa estar a falar deste modo, conheço casos em que não é assim. E creio que não será o teu "retrato", este blog é um exemplo disso.
    Mas grosso modo é o que por aí vai.
    Tens toda a razão na forma como caracterizas as paróquias. Muita conversão há a fazer, no sentido de as pessoas perceberem o significado do seu baptismo. Mas, desculpa puxar a "brasa à minha sardinha", o Bispo da diocese e os padres terão que tomar a iniciativa. Não sei se já ouviste a expressão; "a Igreja não é uma democracia", eu já a ouvi várias vezes, tanto na boca de alguns padres, como na de bispos. Pois não, também digo eu, mas no mínimo que fosse.
    Creio que o título do teu post, exprime bem que algo tem que mudar.
    Não podemos ter ilusões, que de algum modo, vamos ter comunidades perfeitas. Nunca as houve. Até as primeiras, que vemos nos Actos descritas como "pondo tudo em comum e vivendo o amor", têm os seus problemas e as suas desordens.
    Mas como o que nos interessa, são as pessoas, quer padres, quer leigos, teremos que em conjunto buscar a "perfeição", a identificação com Cristo, senão cavamos a nossa mútua infelicidade.
    Não sei se me fiz entender. O que eu acho mais relevante,é que as pessoas que vão despertando, para esta realidade, se unam, se animem mutuamente, rezem em comum, se empenhem em marcar a diferença.

    Um abraço

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  5. Gostava de perceber melhor a vossa argumentação. A diferença é paróquias "rurais" / paróquias urbanas?

    Isto é: em Lisboa, onde vivo, tenho a duzentos metros de casa três igrejas três! paroquiais. É certo que quase só lá vao pessoas com mais de sessenta anos e que nao têm carro... mas tanto quanto percebo há tres grupos "jovens", etc.

    Quando, no séc. XIX, se redimensionaram os concelhos, a lógica foi "uma hora a cavalo a partir da Câmara" :)...

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  6. È certo que as ordenações têm vindo a diminuir significativamente mas, ao meu
    pensamento, vêm as várias passagens dos Evangelhos em que Jesus "empurra" os
    Apóstolos para a rua. No Pentecostes obriga-os a sair de casa, nas aparições
    repete "ide por todo o mundo", na ascenção vem o anjo e diz "homens porque
    estais a olhar pasmados para o céu? Pegai nas pernas e ponde-vos ao caminho".
    E aqui chego ao fundamental desta minha questão. O que está a fazer tanta
    gente, homens e mulheres, fechados em conventos? Jesus, sempre que os
    Apóstolos se fechavam em casa aparecia a dizer-lhes para saírem, irem pelo
    mundo, não ficarem trancados entre quatro paredes. È certo que nos conventos
    há o recolhimento que convida há oração mas isso também pode ser feito cá
    fora. Com tanta falta de Sacerdotes não compreendo a razão pela qual estes
    consagrados não vão pelo mundo anunciar, celebrar, assistir as comunidades.
    Um abraço amigo.

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  7. Gold
    para mim a questão não é paróquia urbana ou rural. Conheço as duas, não diferem muito. Será mais o proprio conceito de paróquia e a forma como está estruturada. Há pessoas que apontam que a paróquia funciona um pouco como um feudo. Algumas bem parece.
    Por exemplo: a paróquia é um pouco "o rosto" do prior, é isso que eu acho que não está certo.
    Depois, as paroquias como estão, funcionam quase exclusivamente para "consumo próprio" sem ser comunidades evangelizadoras.

    Quanto ao anónimo que sugere que as pessoas consagradas de vida comtemplativa, vão evangelizar, não concordo. Cada um tem os seus carismas. A oração pessoal e comunitária tem o seu espaço muito próprio, que é fundamental na evangelização.

    P.S. - Padre, um bom tópico para um post - A oração

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  8. Caros todos.

    Eu como vivo em Lisboa tenho a vantagem sobre muitos de poder "escolher" a paróquia com mais ânimo, fervor e actividade humana e cristã entre as diversas que pululam aqui, como diz o Goldmundo, mas a verdade é que mesmo assim...

    É evidente que o problema passa pela falta de padres e/ou sobrecarga dos existentes. Daí eu também pensar que aquele que recusa pode ter motivos válidos, isto é, precisamente não deixar tornar-se uma peça de xadrez, ou se preferirmos querer manter-se peça de xadrez viva e não mera e aparentemente funcionalista devido ao "excesso" de trabalho. Mas eu acrescentaria também a falta de vida e paixão cristãs que nós leigos tantas vezes somos e fazemos.

    Para além duma crise geral de sentido e paixão que a sociedade ocidental "atravessa", é também uma interpelação à Igreja enquanto estrutura social interna e externamente. Por vezes dá ideia que os decisores "máximos" da Igreja tomam decisões e organiza(r)m a estrutura eclesial a partir de doutrina teológica sem ter em conta a dialéctica desta com a psicologia, a biologia, a sociologia etc, dialéctica necessária à pastoral e seus diversos modos. É pelo menos o que eu penssinto muitas vezes, embora mais como uma dúvida do que uma convicção.

    Acrescento que concordo com a mc relativamente à proposta anónima acerca dos consagrados, realçando no entanto que o comentário anónimo indica um "pôr-se a caminho" (interior e exterior) que corresponde à conversão contínua e activa que penssinto tanto faltar nas comunidades cristãs (quero dizer, falo das católicas, que são as que "conheço" melhor). E que me falta tantas vezes a mim, e esta já não é uma dúvida nem um mero penssentimento. E também, já agora, que este "tipo" de blogues são uma mui boa pastoral, e em que se pode talvez vir beber muita coisa para modificar as relações nas comunidades cristãs - e isto até, sem modificá-las estruturalmente.

    Enfim...

    Um grande abraço a todos.

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  9. Fiquei a pensar no repto que o anónimo nos deixa no seu comentário e na resposta que lhe dei. Fui ler um texto que tinha de José Maria Vigil e que se encontra no seguinte endereço:
    servicioskoinonia.org/relat/354p.htm

    Nunca tinha lido o texto e achei curioso como ele me responde a uma intuição que eu tinha de há vários anos, que vai um pouco contra ao habitual discurso da Igreja sobre a vocação consagrada.
    Recomendo a sua leitura, é um pouco denso e exige espírito aberto, mas para mim, responde muito bem às dúvidas que nos assaltam sobre as vocações consagradas.

    Gostava que o padre, o lesse quando pudesse e se lhe fosse possível partilhasse o que pensa do mesmo. Pode se quiser ser para o meu e-mail - msantosclemente@hotmail.com

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  10. Vitor,
    estávamos a escrever os dois ao mesmo tempo, se puderes lê o texto que sugiro...gostava de ver a tua opinião sobre o mesmo.
    Li melhor o que o anónimo escreveu e creio que lhe percebi o sentido.
    Embora, como dizia S. Paulo, há diversos serviços e diversos dons espirituais. Agora, quanto ao que levou essas pessoas a irem para ordens comtemplativas, se calhar hoje, essa vocação terá outras expressões. E tanto que tem que as mesmas estão a sofrer uma drástica redução, que tem várias causas.

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  11. Hoje já nao lerei o teu texto, Conceição, é tarde. Mas - serei o único? - eu consigo imaginar-me num lugar de contemplação. Não digo no deserto, porque não teria habilidade manual para apanhar gafanhotos nem fé para que os anjos mos trouxessem. Mas dificilmente me imagino sacerdote.

    Às vezes penso que Deus me fez casar para me dissuadir desses caminhos.

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  12. Caro José Rocha,
    obrigada pela sua identidade. Eu também detestei chamá-lo "anónimo". Mas respeito quem não se quer identificar.
    Já agora, bem-vindo a este "debate".

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  13. Gold
    Gafanhotos comem-se em qualquer lado :)
    Eu conheço pessoas que enveredaram pela vida consagrada em reclusão completa porque era notório que "já não eram deste mundo". Duma delas tenho notícias pela família. Está feliz.

    Agora, o importante é percebermos que qualquer estado de vida não vale "por si próprio", mas se inserido no projecto de Deus. Explico: não é pela beleza da vida consagrada, quer seja padre, religioso, missionário, etc, mas se esse modo de vida me põe ao serviço do Reino.

    "Às vezes penso que Deus me fez casar"
    Eu "pensinto" que Deus não nos faz coisa nenhuma. Ama-nos, e aceita as nossas escolhas.

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