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segunda-feira, fevereiro 28, 2011

O nosso dinheiro

É saudável a estima pelos dinheiros e bens públicos. Substituirá uma mentalidade de menosprezo que conduzia a autênticos vandalismos em desperdícios sobre o que «não era de ninguém».

Dizem os entendidos e até os desentendidos que é neste mês que vamos todos saber experiencialmente o que é a crise. Uns mais que outros. O que era uma teoria, uma ameaça, torna-se uma realidade notória na carteira, no banco, à mesa, em viagem, nos bens essenciais, na gestão doméstica, no salário mensal. Paralelamente há uma nova consciência do essencial e do supérfluo. Mas talvez o que mais se acentua é a noção de que o Estado não é apenas aquele monstro que nos rouba e engana. O Estado somos nós. Cada vez o povo sente mais o dinheiro que lhe paga nos impostos que sobem, nos montantes que injustamente o Estado distribui por quem não merece. E no roubo que constitui para a comunidade qualquer desvio de dinheiro ou bens que pertencem ao Estado. Assiste-se inclusivamente a uma espécie de policiamento sobre o carro, o salário, os benefícios de quem é funcionário do Estado. Diz-se simplesmente que é o “nosso dinheiro”. E cada cidadão como que se torna fiscal e administrador dos bens públicos julgando que quer e pode, mesmo sem mandar.

Convém dizer que é saudável a estima pelos dinheiros e bens públicos. Substituirá uma mentalidade de menosprezo que conduzia a autênticos vandalismos em desperdícios sobre o que “não era de ninguém”. Quando afinal é bem de todos nós.

Nesta transição forçada de mentalidade há muito juízo precipitado e incompetente na avaliação dos gastos públicos essenciais em saúde, transportes, segurança social, apoios a desprotegidos, como se se tratasse de usurpadores de bens de todos. O tempo certamente ajudará a uma clarificação. Mas é urgente um discernimento para que não aconteçam juízos nervosos e precipitados sobre aparências e interesses imediatos.

A informação a céu aberto pode prevenir muitos abusos. Mas pode suscitar ajustes de contas selvagens, esquecendo o que é antes de tudo um Estado: uma casa de todos, onde todos têm os seus direitos e deveres e onde se deve reflectir o sentido de comunidade e partilha. É isto que o cristianismo pode acrescentar de novo a um debate sobre o público e o privado, a justiça nas retribuições, apoio aos mais desfavorecidos, serviço à causa pública, a política como o empenho pela cidade.

A presente crise já começou a dar alguns bons frutos. Mas interessa respeitar os tempos e as etapas para que possam reinar entre nós a justiça e a paz.

António Rego

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