E o resultado essencial da atitude cultural da nossa geração pode ser reduzido numa única palavra: medo. O ser humano hoje tem medo. Muito medo. De que é que temos medo? É possível identificar cinco grandes medos.
- O mais antigo é o medo da bomba atómica, das armas de destruição maciça, o vírus global que destrói a net, o cataclismo mundial. Desde 1945 que vivemos à sombra da destruição violenta da humanidade
- O mais avassalador é o medo do aquecimento global e do desastre ecológico planetário. As considerações ambientais suscitam um profundo pavor em que a cultura actual mergulhou.
- Depois vem o medo da China e do desequilíbrio do poder geo-estratégico. Para lá da guerra, é o medo do domínio dos recém-chegados ao progresso que, graças à abertura da globalização, se aproximam dos nossos níveis.
- Em seguida aparece o medo do terrorismo. O terrorismo que pode ser nazi, maoista, islâmico, judeu, ou qualquer outro. Os inimigos são à escolha e muitas vezes opostos uns aos outros, mas trata-se da vingança ideológica que tanto nos assusta.
- O mais recente é um que julgávamos enterrado há muito. Trata-se do medo da crise financeira global, que faça desabar toda a economia e sociedade numa nova grande depressão.
Õ mais interessante é notar como estes cinco medos estão ligados às grandes conquistas da humanidade.
- A bomba e as armas perigosas vêm directamente da ciência, que foi e é o grande ídolo das gerações contemporâneas. O fascínio do poder que a técnica nos traz vem ultimamente ligado a muito medo.
- Pelo seu lado o segundo medo, o aquecimento global, vem do progresso sócio-económico, grande ideal do nosso tempo.
- O medo da China surge da abertura e liberdade de comércio, grande motor da prosperidade.
- O confronto com as culturas, em particular com o Islão, nasce da tolerância, grande valor da cultura ocidental, que está na base de toda a nossa atitude civilizacional.
- Finalmente a crise bancária nasce do desenvolvimento financeiro, grande descoberta que permitiu em grande medida os avanços dos últimos séculos.
Construímos muita coisa com base nesses instrumentos, mas agora eles ameaçam tudo. Não os querermos perder e, ao mesmo tempo não conseguimos tolerar algumas das suas consequências.
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