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terça-feira, junho 21, 2005

TENTAÇÕES DO SACERDOTE

"...Há outra coisa, caríssimos irmãos, que me aflige profundamente na vida dos sacerdotes, mas para que a ninguém pareça injurioso o que vou dizer, acuso-me também a mim mesmo, apesar de me encontrar neste lugar, não por minha vontade, mas obrigado por este tempo calamitoso em que vivemos.
Somos arrastados muitas vezes para assuntos profa­nos, o que não corresponde às exigências da nossa missão sacerdotal. Abandonamos o ministério da pregação e, para nossa vergonha, continuamos a chamar-nos bispos, tendo de bispos o título honorífico mas não a virtude. Abandonam a Deus os que nos foram confiados, e calamo-nos. Vivem
imersos no pecado e não estendemos a mão para os corrigir e salvar.

Mas como podemos nós corrigir a vida dos outros, se
descuidamos a nossa? Envolvidos nos cuidados mundanos, vamo-nos tornando tanto mais insensíveis às realidades interiores do espírito, quanto mais nos dedicamos às coisas exteriores do mundo.
Com razão diz a Santa Igreja a propósito dos seus
membros enfermos: "Puseram-me a guardar as vinhas e não fui capaz de guardar a minha própria vinha".
Escolhidos como guardas das vinhas, não guardamos sequer a nossa vinha, porque, entregando-nos a actividades
estranhas, descuidamos os deveres do nosso ministério"
S. Gregório Magno
Vemos muitos colegas atarefados como coisas que pouco tem a ver com o nosso ministério. Qual a vossa opinião?

6 comentários:

  1. É tão estranho. Sabes, fui agora mesmo verificar, na internet, a época da vida do Papa Santo Gregório. Achave que era nos tempos difíceis do fim do Imperio Romano mas não tinha a certeza. Encontrei facilmente, viveu por volta do ano 600, os "anos das trevas". O artigo que li falava da sua exortação aos bispos, "os bispos devem ser a luz". E continuava, "podemos infelizmente constatar hoje essa verdade".

    E no entanto, que longe estamos do "tempo calamitoso" que Gregório conheceu. O orgulhoso Imperador já não mora em Constantinopla (quando Gregorio foi eleito Papa, o Imperador tinhe o direito de confirmar ou negar a eleição - olhem se Bush tivesse ainda esse poder), agora é protestante e vive do outro lado do mar. Os bárbaros voltaram, mas não usam tanto o fogo e a espada. A ordem pública, a cultura, a defesa militar dos povos não dependem já dos bispos que em tantos lugares foram os únicos a não ir embora.

    E hoje... parte da Igreja flagela-se a si mesma na praça pública, um pouco como a oração altiva do fariseu. Tem pelo novo Papa o desdém intelectual que me habituei a encontrar nos jornalistas que são de esquerda porque uma vez leram na diagonal o Gabriel Garcia Marquez. Encontrou-se na primeira linha dos que chamaram "absurdo" o filme de Gibson, há tão pouco tempo. Orgulhosamente proclamam a Igreja de Marta contra a Igreja de Maria. São muito "activos". Seguem muito a "juventude". Trazem para as assembleias as músicas dos Rolling Stones, não compreendendo que os "jovens" preferirão sempre ouvir o original do "Simpathy for the Devil".

    E a outra parte? Bem, alguns têm medo, que é na Igreja talvez o pecado maior, maior do que o orgulho terreno. Têm medo de se reconhecer como uma minoria, mas a minoria que é o sal. Falam do "sentimento católico do povo". Ficaram contentes com o vergonhoso "luto nacional" pela Irmã Lúcia (outros têm vergonha da Irmã Lúcia, simplesmente). Têm medo de tudo o que não seja o "povo simples" das aldeias, as ovelhas quietas. Ninguém lhes disse que a montanha os aguarda, talvez.

    Depois, há os peregrinos. Vejo-os sempre à sombra do crucifixo curvado do Papa Velho, percorrendo o mundo. Vejo-os a alegrar-se com a Palavra, não com o raciocínio. Com a fé, e não com o cansaço. Vejo-os a caminho de uma Roma quase deserta. Gostam de igrejas antigas, do canto suave dos monges, de pouca luz. Nem sabem o que seja a "humanidade", mas olham aquele que em cada momento caminhar ao seu lado. Visível ou invisível.

    Deixemos o Templo ruir. Só ruirão as pedras mortas. As vivas levantar-se-ão, as pedras cantarão a deus quando os homens se calarem. Vejo o mistério, e a assombração do mistério.

    Sim, penso que é esta a minha opinião. Ando cansado, também.

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  2. Se fazes uma análise do que está a acontecer, porque é que não começas por ti e tratas da tua vinha como deve ser em vez de te preocupares com a vinha do teu vizinho? Exemplos, são a melhor lição de vida; não as grandes ideias que ficam no nada. Começa por virar a tua vida e amanhar a tua vinha e vais ver que alteras para melhor, muita coisa à tua volta!Desculpa o jeito de falar mas eu sou muito prático nas análises que faço e não me delongo em grandes interpretações metafísicas.

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  3. Engraçado... vai aí uma confusão sobre vinhas que é exemplar... :)

    cito o post: "Com razão diz a Santa Igreja a propósito dos seus membros enfermos: "Puseram-me a guardar as vinhas e não fui capaz de guardar a minha própria vinha"."

    Só a Santa Igreja pode dizer "a minha vinha", unida perfeitamente, como está, a Cristo sua cabeça.

    Nós não temos uma vinha nossa. Gostaríamos de ter? Seria sinal de que Deus nos tinha abandonado o mundo. Mas não temos. Somos apenas "servidores inúteis".

    (ah, e como conciliar isto com a nossa orgulhosa consciência de cristão inquietamente adultos?!)

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  4. ... e foi precisamente por isso que eu afirmei a existência da confusão, vinci. E a felicidade da metáfora ressente-se disso.

    A "confusão" na compreensão das frases citadas, as do S. Gregório, vem de as não considerar no contexto que lhes é dado pela fé cristã que motivou o santo a escrevê-las; comentá-las sem ter isso em conta conduz a uma discussão que, por mais interessante que seja - não o nego - é uma discussão outra que não esta que o Padre aqui nos trouxe.

    O Santo fala claramente, quando fala no "descuidar da nossa vinha": e não quer com isso dizer aquele que se não preocupa consigo mesmo, mas precisamente aquele que esquece os "deveres do ministerio", e que por isso incorre no "abandono dos que nos foram confiados". De certa forma (paradoxo da fé), descuida a sua vinha quem de si mesmo se recorda.

    Isto porque para a nossa fé, de católicos, a vinha é o nosso próprio irmão, não nós. ("serei eu o guarda de meu irmão?" é a pergunta que, logo no início da Bíblia, coloca a deus o inquieto Caim, o primeiro assassino). De nós mesmos alguém cuidará, na medida em que aos outros nos dedicarmos (e esse alguém é o "deus que alimenta as aves" de que fala Cristo; estamos pois em boas mãos, bem melhores que as nossas).

    Ora, se a vinha própria fosse a própria pessoa, não a descuidaria de todo quem faltasse aos deveres para com os outros (afinal, os deveres de "oração e pregação" a que o Padre se tem referido) em nome da atenção aos seus (por mais justificados que pareçam) interesses. "Interesses mundanos", diz Gregório, e na linguagem moderna falaríamos preferivelmente de "decisões racional e economicamente justificáveis".

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  5. O motivo é tão sómente, porque os sacerdotes...são homens iguais aos outros...sem tirar nem pôr!
    Podem ser teológos...quererem ser santos...etc...mas, o que acontece, é que são feitos do mesmo barro que os outros seres humanos, portanto não têm que ficar com pesos de consciência de não serem aquilo a que se propõem...porque simplesmente andam cá precisamente para fazer a caminhada a todos nos propomos, quando da nossa chegada a este mundo terreno. Pecados não existem...existem erros que se vão cometendo e aprendendo com eles...para nos pudermos aperfeiçoar, por isso, as tentações dum sacerdote, são as mesmas de qualquer cidadão, que vai crescendo cometendo erros e avançando à medida que se vai caminhando. Talves tenham um bocado mais de responsabilidade, uma vez aue fazem votos muito especiais...mas quem nunca errou...que atire a primeira pedra...

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