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segunda-feira, junho 27, 2005

O PADRE E A CRUZ

Tornou-se definitivamente claro, desde o acontecimento pascal, que não há ressurreição sem cruz, nem vida sem morte. Pelo que a partir do contacto da realidade, na sua integridade e dureza, estare­mos em condições de contribuir para a sua transformação. Detenha­mo-nos, a esta luz, no que ocorre nas nossas comunidades cristãs.
Como não estará o coração de um padre no final de tantas roma­rias, quando estas se reduzem, na sua grande maioria, a um intermi­nável festival de ostentação, grosseria e mau gosto? No limite do can­saço, lá acaba por ceder a pressões e caprichos na esperança de que a harmonia é um valor que há-de preservar. que, no seu íntimo, não escapará a uma penosa dilaceração. Será que o padre não passa de um figurante?
É bom que se saiba que, para muitos, o padre é necessário apenas para baptizar crianças que raramente porão os pés na Igreja, para oficiar o casamento de jovens que vivem completamente à margem da paróquia e para acompanhar o enterramento de defuntos que foram coleccionando recusas a sucessivas - e insistentes - propostas de conversão.
É fácil a um padre aperceber-se de que a sua actuação é ditada não tanto pela convicção própria mas por mero arrastamento alheio. Em muitos momentos, ele vê-se impelido a fazer não aquilo em que sinceramente acredita, mas tão-somente aquilo que lhe é imposto, frequentemente com pouca - ou nenhuma - delicadeza.
E hoje em dia, não lhe sobram alternativas para (ten­tar) inverter a situação. Se segue em frente e corta a direito, é ameaça­do, contestado e torpedeado. Se, pelo contrário, usa de paciência e de bondade (auscultando as opiniões e explicando os procedimentos), dificilmente obterá melhor resultado. Pode até suceder que seja mais facilmente bloqueado, vilipendiado e interiormente trucidado. Não falta, de facto, quem continue a confundir moderação com moleza e tolerância com fragilidade.
O certo é que, de uma maneira ou de outra, se vai desenhando uma tendência deveras preocupante: em vez de ser o padre a alterar as circunstâncias, acabam por ser as circunstâncias a desfigurar a missão do padre. Que fazer? .
Se o padre se integra e assimila os comportamentos ambientais, tem toda a gente a seus pés, mas com o risco de se decompor. Se persiste, oportuna e inoportunamente, identificado com a sua voca­ção, a consciência ficará tranquila, mas o melhor é preparar-se para o martírio. Para o acidente. Para a hostilidade. Para o cerco.
Não há aqui, contudo, nada de depressivo e deprimente. Não é o mistério do padre uma emanação do mistério da cruz? Não pre­veniu Jesus para as ofensas e para os insultos que os Seus discípulos, de ontem e de hoje, haveriam de sofrer por causa de O seguirem (Mt 5, ll)?
O importante é que, cientes da tormenta que nos rodeia e consci­entes da força que nos anima, avancemos na detecção dos sinais que o nosso tempo vai emitindo. E um dos sinais que se vai impondo com crescente nitidez, é o que diz que o padre não pode resignar-se ao papel de figurante.

17 comentários:

  1. Continuo a estar de acordo. Mas não é do padre a "culpa": é de cada um dos membros da Igreja, de cada um de nós.

    Demasiados anos de missa ao domingo, a seguir ao futebol ou depois da praia, escolhendo - quando se pode - a missa que nao "demora" tanto como a do lado.

    Demasiados anos de orgulho: "não acredito no deus do padre antipático que uma vez me ralhou".

    Demasiados anos.

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  2. Concordo em absoluto com o "post" bem como o comentário do Goldmundo.

    Um dos grande problemas da Igreja em Portugal é o "hábito". A Igreja tornou-se algo "comum", demasiado "comum". O pároco tornou-se num "manga de alpaca" religioso, ao qual se requere que "despache serviço" como se a igreja fosse uma qualquer repartição pública. Perdeu-se o sentido de missão , a vivacidade da fé. Em vez de se procurar converter pessoas à mensagem da Verdade de Deus, procura-se "gerir" a existência de uma estrutura.

    Eu participo em discussões com católicos de outros países e nota-se, constantemente, que a chama da Fé é mais viva nos países em que o catolicismo NÃO é dominante e ainda mais quando este é perseguido (oficialmente ou não). Aqui estamos todos acomodados, habituados à "normalidade" da Igreja Católica.

    Eu "voto" por (algumas) soluções de ruptura, como negar o sacramento do matrimónio a casais que não estejam dispostos a trilhar uma vida em conjunto de acordo com o que assumiram perante Deus e o Homem, como EXIGIR padrinhos de baptismo e de matrimónio que sejam cristãos reconhecidamente fiéis aos ensinamentos da Igreja (nem que para isso tenha de ser o próprio padre a ATRIBUIR os padrinhos).

    Exigir que as cerimónias respectivas (baptimos, casamentos e funerais) decorram de acordo com os preceitos litúrgicos adequados e reduzir ao máximo, senão mesmo eliminar, interferências "festeiras".

    Transformar as procissões e romarias em fenómenos de Fé e não só de festa popular, passando o programa das mesmas por um "crivo" de forma a evitar a actuação de artistas que atentem (em forma ou estilo) contra as normativas da Igreja.

    E, assima de tudo, instruir. Instruir as pessoas sobre o que é a Fé e dar indicações de como deve ser vivida.

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  3. Eu não concordo com o comment anterior. O padre deve misturar-se com o povo, ser povo, instruir o povo em vez de o deixar ignorante para parecer que é mais católico e tem mais fé, não entendendo nada do que Cristo ensinou...
    Na provincia é fácil ver-se como os padres falam com as populações! Quem está num alta tem o dever não só de ensinar como ser parte do rebanho que Deus lhe deu para dirigir. Há alturas em que até parece que algumas das pessoas que comentam o Blog do Confessionário e este, gostariam de voltar à velha guarda da ritualização antiga na Igreja em que ninguém percebia nada de nada mas todos aceitavam tudo sem refilar.
    Tudo mudou, espero que na populaçã e nos padres. às vezes vejo aqui comentários que me metem medo... de gente que tem responsabilidades na vida e na condução das gentes que os ouvem. Gosto do Confessionário que tem uma mente aberta e assimilou com naturalidade o espirito desta era. O mesmo não direi de algums comentários de saudosistas como se isto agora fosse uma "balda". Não creio que o seja; acho que quem vai agora à igreja, embora com os defeitos próprios dos seres humanos, são pessoas muito mais conscientes da sua fé e isso é bonito. A idade da evangelização passou; agora é a idade de concretizar em actos e aproximação a todos os principios em que acreditamos. Quando mais o padre estiver próximo de todos mais todos se envolverão no espirito da Igreja. Distanciação já foi...

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  4. Luz
    vejo que voltaste em boa forma!
    O caminho vai-se fazendo, uns mais à frente, outros refreando um pouco os passos... Mas o caminho que é Jesus Cristo a todos nos conduz.
    Gosto muito de uma coisa que nós costumamos falar em Igreja, que é a pedagogia de Deus. Nos evangelhos existem exemplos soberbos disso e todos devemos seguir o exemplo do Mestre.

    M. Conceicao

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  5. Luz,

    Se o comentário foi para mim, não percebi. Eu acho que os padres DEVEM envolver-se mais com as comunidades, devem ter um espírito de missão e não de gestão. Devem, acima de tudo, lutar contra a indiferença que a Igreja sofre por parte dos crentes (?) nos dias de hoje.

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  6. Caro Carlos, suspeito que a Luz continua dedicadamente a fazer o papel de minha "consciência" (Luzinha, diz lá.. :) ).

    A sério, Luz: tem cuidado com a aplicação permanente da teoria de que "as trevas medievais duraram até anteontem".

    Se quiseres, sim, tenho saudades da velha ritualização da Igreja. Não sei se ninguém "percebia nada de nada". Não estava lá para ver, e acho que o apelo a "não julgar" se dirige ao julgamento dos vivos, mas também ao (nosso) julgamento dos mortos. Eu não sou mais "adulto", "esclarecido" e "iluminado" do que os meus antepassados. Quando vejo uma catedral antiga, penso que só a fé a pode ter erguido. Quando leio a vida dos mártires (falemos dos portugueses nos cinco continentes, se quiseres), acho que não deviam ser gente "ignorante".

    Acho, pelo contrário, que muito da actual pedagogia é absolutamente errada. E vou dar um exemplo: tinha eu catorze anos e inscrevi-me nas aulas de "moral". Padre franciscano, "moderno", inimigo do "vaticano" e das "riquezas do vaticano". Gostava dos "jovens". Na primeira aula, tentando "misturar-se com o rebanho", disse (desculpa, Confessionário, mas isto é uma citação): "eu sou Fulano. Sou padre, mas isso nao quer dizer nada. Gosto de vocês, jovens. E falo a vossa linguagem, querem ver? Merda! Então, falo ou não falo?"

    ... preferia ter ouvido um canto gregoriano, sim. E não entenderia mais que uma ou duas palavras do seu texto. As do meu saudoso professor de moral, percebi-as todas.

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  7. Tu fazes-me rir Gold!
    Com que então sou o teu grilo falante!
    Olha eu também tive uma fase, na adolescência que queria ser freira missionária(sempre tive espirito de missão) e foi o cónego meu professor de moral que me dissuadiu...
    Mas não gosto de Igrejas escuras, silenciosas demais e pesadas... gosto mais da Luz...
    Uma vez até estive quase a desmaiar na Catedral de Burgos....

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  8. Oh, Dad, porra, só agora é que descobri que tu e a Luz, são a mesma pessoa. Gostaria que fôssemos muitas mais...Paciência! Já me consola saber que tu vales por duas.
    M. Conceicao

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  9. ????? puro engano, Maria da Conceição, quem é que disse uma alarvidade dessas?

    Eu e a DAD somos amigas, mais nada!

    Beijitos,

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  10. E vamos continuar as duas a comentar. Pensamos de maneiras muito semelhantes. E a culpa foi minha porque ela foi atender o telefone e eu, sem querer, porque era só publicar, enganei-me e publiquei com o meu nome.

    Bjs

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  11. Maria da Conceição, se quiseres vai ver o meu blog:
    http://www.momentosdeluar.blogspot.com/

    A Luz ainda não tem blog. Estou farta de lhe dizer para fazer um e ainda não fez. E tu, tens algum?

    Bjs

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  12. Bem, bem, bem, agora sinto-me no papel do gajo que bebeu umas cervejolas a mais, e já não sabe se vê uma, se vê duas. Acredito em vocês. Mas já uma vez, no "confessionário", aconteceu uma coisa parecida com as meninas. Eu era para comentar, mas esqueci-me.
    Então utilizam o teclado à vez? Está bem!

    Não, não tenho blog. E para quê? Sabia lá, o que lá escrever? Assim vou "parasitando" os blog´s dos outros. É assim: Uns investem, outros usufruem. (Esta agora ficou muito mal). Se algum padre andar por aí, pode mandar a penitência.

    M. Conceicao

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  13. Gostei dessa da penitência... Boa! Gosto sempre muito de te ler. Beijinhos, e esta confusão foi de morte... eu nem tinha dado por ela...bem feita para a Dad que está sempre com pressas...e eu estou como tu, também ando por aqui e por ali a ver os blogs dos outros.

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  14. Estou de acordo com a Luz Dourada! Os padres, têm responsabilidade e obrigação de abrir as mentes e o coração das pessoas!!!Por isso são ordenados...para serem os guias dos paroquianos!
    Não podem ficar, por dar uma explicaçãozita na homilia, sobre as leituras que são feitas...e muitas vezes se limitarem a falar de assuntos, que nada têm a ver com os ensinamentos que hã-de dar!!!
    Porque é que não falam abertamente...da leitura da Biblia...tranportando para os dias de hoje os ensinamentos Cristicos?
    Tenho pena, que nas missas a que assisto(salvo raras excepções) o padre chega a levar 20 a 25 minutos...a falar para pessoas que não entendem nada do que está a dizer, porque simplesmente...não diz!!!
    A Igreja tem que se renovar...em todos os aspectos...pois senão vai ficando cada vez mais escura e o bafio começa a infiltra-se pelos corações das pessoas...e elas terão que fazer uma grande limpeza e irem procurar...outros "templos" onde a LUZ se faça resplandecer!!!

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  15. "Obrigação de abrir as mentes?!" ... Lindinha, não vês que isso é... perigosissimo? Deus me livre das pessoas que me querem abrir a mente.

    E abençoados os que, com a sua presença e o seu testemunho, me permitem e ajudam a abri-la.

    Mas as palavras têm um significado rigoroso.

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  16. Goldmundo, então achas que os padres devem ir para o ambão, fazer homilias onde só falam de dinheiro...verbas que têm para pagar...aos meninos da primeira comunhão, ...que não podem pedir coisas aos paizinhos...que agora têm que pagar mais impostos...etc...achas que é para isto que os paroquianos devem ir à Missa ao domingo?!
    Eles não querem abrir as mentes das pessoas...sim!!! dá trabalho pôr o pessoal a pensar em coisas do espirito...depois começasm as pessoas a querer saber demais...e depois? sabem mais do que eles?
    Não interessa falar de coisas sérias, interessa deixar tudo em águas mornas, para que os espiritos não fiquem confundidos, pois com as explicações, que ouço de alguns padres(graças a Deus alguns fogem à regra)...até dá vontade de nunca mais ir a missa alguma. É preciso ter-se um espirito muito firme e cheio de fé...para não abandonar o barco...
    Isto goldmundo...é o que eu sinto...muito sinceramente...

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