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terça-feira, agosto 29, 2006

Vocações para a crise? (aproxima-se oV Simpósio do Clero, talvez seja um bom artigo para reflectir)

O número de padres está a diminuir em Portugal a uma média de quase 50 por ano. O último anuário da Igreja Católica revela dados preocupantes para o futuro da estrutura eclesiástica. A quebra é progressiva e, segundo dados oficiais, haverá já menos de 3000 padres diocesanos em Portugal, para quase 4400 paróquias...
As estatísticas referentes ao triénio 2000-2003 revelam que, neste período, o número de sacerdotes formados nos seminários diocesanos baixou de 3159 para 3029: menos 130. Em média, por cada dois padres que morrem, é ordenado apenas um e o número de seminaristas também está a baixar.
Mantendo-se esta diminuição de vocações, dentro de uma década a Igreja portuguesa só consegue garantir padres, com a formação clássica dos seminários diocesanos, em metade das paróquias existentes. É a própria estrutura hierárquica que está em causa. São frequentes os apelos e os documentos do episcopado para uma sensibilização das famílias católicas para a vocação sacerdotal.
Mas um outro problema desponta, próprio de um tempo e de uma sociedade que promove a ambição e a competição. O exercício do "sacerdócio" não estará a perder o sentido do "serviço" gratuito de missão para ganhar contornos de uma "carreira"?
No caso português, há também um dramático fosso "geracional" nos padres. O período pós revolucionário provocou uma descontinuidade nas vocações que começa agora a ter impacto. À cabeça do debate sobre a falta de vocações surge:
  • normalmente o celibato;
  • a menor influência das famílias na educação dos filhos;
  • o "divórcio" entre a doutrina e a vivência dos católicos;
  • a sociedade, que promove o "efémero" e facilita a "desistência"...
  • problemas de integração entre jovens padres. As vocações não são imunes à "pressão" da sociedade contemporânea e começam a ser frequentes os casos de padres que acabam por "desistir" ou enfrentam graves "crises" já depois de ordenados.

Um outro problema é o modelo "piramidal", centrado no clero. Quando as hierarquias insistem na "estrutura" da "pirâmide" para organizar as comunidades, correm o risco de:

  • promover o distanciamento em relação ao homem contemporâneo,
  • Incentivam a preguiça,
  • centralizam responsabilidades que devem ser partilhadas,
  • precipitam-se em dinâmicas de relacionamento comunitário que pouco contribuem para, verdadeiramente, congregar.

Vive-se um tempo propício ao regresso às dinâmicas de pequenos grupos, cansados de ritos viciados pela rotina, mas sedentos do ritual da proximidade, da cumplicidade e da surpresa. É por aqui que o "sacerdote" assume a sua função maior, actuando à medida de cada "alma", onde o domínio do "inexplicável" é atraente e exclusivo dos ministros de qualquer culto ou fé, independentemente de serem celibatários ou casados.

Fonte: http://sic.sapo.pt/online/noticias/opiniao/20060502+-+Vocacoes+para+a+crise.htm

4 comentários:

  1. Qualquer organização precisa de assentar sobre uma estrutura hierárquica piramidal, sob pena de não ser organização nenhuma e apenas um amontoado. Sem alicerces, qualquer edifício acaba por ruir e ficar em estilhaços.
    No entanto, nota-se que a estrutura hierárquica da Igreja é demasiado pesada e burocrática e seria conveniente proceder-se à sua simplificação. Há pirâmides e pirâmides… Quando se vai ao Vaticano ou se olha pela TV, sente-se, vindo de lá, um peso esmagador com toda a inúmera fila de cardeais, bispos, padres, monsenhores, etc. Tudo isso se reflecte depois nos patriarcados, bispados e por aí fora, de todos os países católicos. Em Portugal, por exemplo, penso que, embora haja poucos padres, o grande problema é que estão mal distribuídos e muitos deles nem se dedicam inteiramente às funções para as quais se ordenaram, como se vê na TV e em tudo o que é do domínio do Jet set.
    Parece haver falta de "entreajuda" e, além disso, há todo um sem-número de questões mundanas que ofusca muitos clérigos, como aliás, ficou patente num outro Post atrás. Ponham-nos a trabalhar nas Paróquias.

    Mas o grande problema da falta de vocações prende-se essencialmente com a época em que vivemos e, quanto a isso, infelizmente não sei se haverá muito a fazer.

    Vivemos numa civilização cuja sociedade moderna é sobretudo ateia, materialista e faz do prazer a única modalidade do viver. A par disso, dá-se muito ênfase ao sucesso na vida e à prosperidade, neglicenciando-se os valores espirituais, sobretudo a renúncia, a verdadeira caridade, o arrependimento e o perdão. Transversalmente a tudo isto, a Ciência que promove como único critério de verdade a razão, leva necessariamente à destruição da fé.
    São temas sempre recorrentes, mas não há como fugir deles.

    Mas o mais grave, e que concorre facilmente para o descrédito das pessoas, não está nos de fora, mas nos de dentro:
    Nos maus exemplos de vida de muitos católicos padres e leigos;
    Por outro lado, há demasiados católicos, hoje em dia, que se recusam a aceitar as verdades dos mistérios da fé e pretendem, com soberba e vaidade, explicar pela razão e com base em dados científicos, matérias que são do domínio do sobrenatural e que só pela fé podem ser compreendidas, porque a fé é precisamente o crer naquilo que se não pode entender pela razão humana e até repugna ao nosso entendimento. (Quantas pessoas cultas se conhecem que, por vergonha, preconceito e respeitos humanos, escondem a sua fé - ou mesmo a renegam - por trás de um saber científico?!)
    São muitos destes cristãos, ainda, que criticam a própria Igreja de obsoleta e retrógrada, por se manter fiel à Tradição e não dar abertura aos leigos para ministrar os Sacramentos (nomeadamente às mulheres), ou porque não se disponibiliza a desculpar o aborto, a homossexualidade e outros males que grassam no mundo.
    Estes católicos, fazem mais mal à Igreja do que todos os outros de fora juntos, porque "qualquer casa dividida em si mesmo não subsistirá". Embora "as portas do inferno não prevalecrão sobre Ela."
    Cristãos destes, acabam por confundir e espantar todos aqueles que andam em busca de um sentido para a vida e outros mais que se sentem periclitantes.

    Com tantos apelos mundanos e fúteis , por um lado, e com tantos cristãos a darem falsos testemunhos do Cristianismo, por outro, como é que os jovens se podem sentir atraídos para o Sacerdócio?

    Sr.s padres, querem um conselho?, vivam o vosso Ministério com coragem e perseverança, com alegria e boa-vontade (e deixem os falsos seguir o caminho deles), pois conseguirão sempre conduzir algumas almas, por poucas que sejam, ao Rebanho, e a vossa recompensa será grande!

    È possível (pelo menos, estou convicta disso) que tenha chegado o tempo em que a grande "apostasia" se instalou no Mundo, segundo as profecias de Cristo.

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  2. "Transversalmente a tudo isto, a Ciência que promove como único critério de verdade a razão, leva necessariamente à destruição da fé."

    Cara anónima

    Isto não é de todo verdade. A Ciência tem como único critério de verdade a razão, mas no seu domínio específico. A fé não se situa no domínio da ciência. E por isso mesmo existem e sempre existiram muitos cientistas crentes.

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  3. Já agora, sobre a questão da razão e da fé, eis o que diz o Papa Bento XVI (Agência Ecclesia, http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia.asp?noticiaid=36557 )

    «Mais recentemente, a 6 de Abril de 2006, num encontro com os jovens da Diocese de Roma, o Papa explicou que “a grande opção do Cristianismo é a opção pela racionalidade e pela prioridade da razão”, “que nos mostra como por trás de tudo haja uma grande Inteligência, na qual podemos confiar”.»

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  4. CA,

    concordo consigo. Se calhar, não me expliquei bem. Eu própria, sempre me pautei pela conciliação entre Fé e Razão.
    Mas quando se estabelece, como "ùnico" critério de verdade, a razão, que se apoio em dados concretos da experiência no plano espacio-temporal, pode, com facilidade, levar à descrença.
    Porisso, é importante que se promova a conciliação de Fé e Razão, pois há muito para além do que o nosso entendimento é capaz de alcançar.
    Como se diz algumas vezes, "o cientista apenas consegue ver o Absoluto pelo buraco da fechadura".

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