A diocese de Vila Real é conduzida há 15 anos por D. Joaquim Gonçalves, um bispo natural de Fafe que se rendeu aos encantos da natureza transmontana e às suas gentes. Em entrevista ao Diário do Minho, o prelado faz a radiografia da diocese e revela o que fez e o que planeia fazer no futuro.
Diário do Minho — Como caracteriza o clero da diocese?
D. Joaquim Gonçalves — O clero mais idoso é um grupo significativo, pois temos ainda 17 párocos com mais de 75 anos. A maior parte dos párocos têm entre 50 e 75 anos. Abaixo dos 50 anos, temos cerca de 40 sacerdotes. Os padres mais velhos são um clero zeloso da prática sacramental, não tendo muita facilidade no trabalho com os jovens nem com a pastoral criada pelo Concílio Vaticano II. O clero mais novo tem consciência da necessidade de intensificar a pastoral juvenil, a pastoral familiar e o acompanhamento dos emigrantes. Mas os padres mais novos, apesar de generosos, são mais frágeis, porque não conseguem vislumbrar resultados rápidos na sua acção e tendem a desanimar.
Nestes 15 anos, como Bispo de Vila Real, ordenei 31 sacerdotes, recebi quatro vindos de fora e quatro abandonaram o sacerdócio. Ordenaram-se três bispos em Vila Real e um no Brasil. Apesar dos problemas da desertificação e da baixa de natalidade, temos 35 alunos no Seminário Menor (do 7.º ao 12.º ano), 17 no Seminário Maior e um em estágio pastoral.
Nestes 15 anos, como Bispo de Vila Real, ordenei 31 sacerdotes, recebi quatro vindos de fora e quatro abandonaram o sacerdócio. Ordenaram-se três bispos em Vila Real e um no Brasil. Apesar dos problemas da desertificação e da baixa de natalidade, temos 35 alunos no Seminário Menor (do 7.º ao 12.º ano), 17 no Seminário Maior e um em estágio pastoral.
Há muitos padres a abandonar o sacerdócio?
A diocese teve sempre um grande número de jovens padres que abandonaram o sacerdócio. Seremos a diocese com um maior índice de abandono do sacerdócio no país. Percentualmente, Vila Real deve atingir os 25 por cento de padres que abandonaram a sua missão. O povo já não se escandaliza com situações desse género, infelizmente porque já está “vacinado”. Depois das convulsões do 25 de Abril conheceu-se uma certa estabilidade. Nos últimos dois anos, quatro padres abandonaram o sacerdócio. Dois deles tinham sido ordenados em 1998, um em 1999 e outro em 2002. Tratavam-se de jovens que tinham iniciado o seu sacerdócio com muito entusiasmo mas não resistiram ao turbilhão de ideias, sentimentos e desafios, acabando por se afastar. O povo, mercê do hábito, não ficou admirado, mas, para os padres mais jovens, seus colegas, foi um choque.
Os leigos têm-se empenhado nas comunidades?
Hoje, os praticantes não chegam a 50 por cento em cada comunidade. Nas cidades, a prática dominical desceu aos 30 por cento. No entanto, os leigos quando convidados pelo pároco para tarefas nas comunidades são generosos e gostam de colaborar na administração paroquial e na liturgia.
Vai mexer na estrutura da diocese?
A diocese tem 264 paróquias, algumas das quais muito pequenas (uma delas não deve ter mais de 60 pessoas) e em zonas isoladas. Por isso, hoje, algumas delas não têm nenhuma razão de existir, mas também não será necessário extingui-las canonicamente, até porque isso não resolverá nada. Estamos a tentar implantar um sistema que passa pela criação de unidades pastorais. Na prática isso já existe dado que cada padre tem quatro ou cinco paróquias a seu encargo. Este é o rumo que será seguido, porque não há hipótese de ser outro. Por outro lado, apesar do turbilhão de ideias e ideais gerados pela globalização há pilares eclesiais que nunca mudam: a família, o sacerdócio, a missa ao domingo, os sacramentos. Não é uma mensagem de defesa mas de futuro e de estabilidade que os cristãos precisam de ouvir hoje dos seus pastores. Esta é a linha da minha pastoral para o futuro, aliada à necessidade de ajudar as pessoas a rezar. Gostava também de conseguir estabelecer na diocese uma comunidade religiosa contemplativa, que é uma lacuna.
Fonte: Eclesia
- Como resolver a falta de clero? A solução está nas unidades pastorais, na ordenação de diáconos permanentes, na instituição de leigos como "ministros da assembleia" na ausência de presbiteros?
- O que leva os padres a abandonar o sacerdócio nos primeiros anos? O seminário não os prepara para o "turbilhão de ideias, sentimentos e desafios"? - pergunta deixada pela CA.
Há um padre em Vieira do Minho que é Presidente de Câmara.
ResponderEliminarProvavelmente se a Igreja não formasse padres para serem Políticos profissionais, as médias etárias podiam baixar...
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ResponderEliminarOra aí está uma coisa que näo tem nada a ver com a outra... :)
ResponderEliminarO que leva os padres a abandonar o sacerdócio nos primeiros anos? O seminário não os prepara para o "turbilhão de ideias, sentimentos e desafios"?
ResponderEliminarHá tanta coisa em jogo nesta questão das vocações que mais vale fazer-se uma tese sobre o assunto.
ResponderEliminarHá falta de Fé; mudam-se os tempos, mudam-se as vontades; e ácabamos sempre por desembocar no mesmo caminho: um mundo que vive de puro materialismo e a juventude já nasceu e foi criada nesse turbilhão de cultura e ideais terrenos.
A boa-vontade, só, não chega; falta-lhes o sustentáculo de uma vida voltada mais para o espiritual, enraízada no mais fundo de nós.
Sem isso, mesmo os jovens com belos ideais acabam por sucumbir aos apelos mundanos, porque quase toda a Semente cai em terreno pouco fértil e muito árido.
Enfim, Sinais dos Tempos.
CA,
ResponderEliminarNäo. Näo prepara.
A formaçäo dos seminários (a que eu conheço) permite e favorece uma visäo romântica do ministério sacerdotal que näo se adequa à realidade pastoral que depois se encontra.
Um jovem, no seminário, é conduzido à ordenaçäo sem quase dar por isso: tudo ajuda, favorece e encaminha para essa meta. Quando sai da estufa e se enfrenta a um trabalho pastoral numa paróquia, constata com surpresa, que 80% da sua preparaçäo näo lhe serve para nada e que lhe säo exigidas muitas outras qualidades.
Os sacrifícios próprios do sacerdócio católico, como o celibato, säo facilmente toleráveis num ambiente comunitário, protegido e idealista. Quando o sujeito se vê sozinho, ainda por cima confrontado com outras dificuldades do ministério, surgem dúvidas e inseguranças, às vezes inultrapassáveis.
Além de tudo isto, há uma componente de simples normalidade: depois de exercer durante um periodo suficiente para conhecer, mas breve para se achar que näo se tem outras hipóteses, "muda-se de ramo", como pode acontecer e acontece em qualquer actividade.
Manuel
ResponderEliminarParece que todo o conceito de formação dos futuros sacerdotes precisa de ser revisto.
Chamou-me a atenção a frase:
"Além de tudo isto, há uma componente de simples normalidade: depois de exercer durante um periodo suficiente para conhecer, mas breve para se achar que näo se tem outras hipóteses, "muda-se de ramo", como pode acontecer e acontece em qualquer actividade."
Isto por duas razões:
1) Para se conhecer minimamente a actividade do sacerdócio não se devia esperar até depois da ordenação. Devia haver contacto dos seminaristas com sacerdotes nas paróquias e os formadores deviam ter prática pastoral. Isto já acontece? Os seminaristas contactam com os problemas reais dos sacerdotes?
2) O sacerdócio não é uma actividade profissional, é uma opção de vida. Imagina que eu dizia que era normal, pouco tempo depois de casado e de "um periodo suficiente para conhecer, mas breve para se achar que näo se tem outras hipóteses", mudar de mulher.
Não deviam os seminaristas andar mais soltos antes da ordenação, contactarem com sacerdotes reais que lhes mostrassem porque é que vale a pena escolher essa vida, pensarem noutras opções, namorarem se fosse o caso e quando estivessem decididos a serem ordenados então que o fizessem já com um entusiasmo que não se esgotasse rapidamente?
CA,
ResponderEliminarEssa minha última frase pretendia apenas desdramatizar. Deixar o sacerdócio é sempre um processo difícil e doloroso, precisamente porque näo é uma normal actividade profissional, mas uma vocaçäo, ou, como dizes, uma opçäo global de vida. Mas às vezes acontece. E näo há que dramatizar.
As questöes que levantas säo pertinentes.
A formaçäo dos futuros padres já inclui essas componentes que referes, em maior ou menor grau, conforme os seminários e as equipas responsáveis. Mas o modelo de formaçäo, na sua globalidade, precisa de uma profunda revisäo. Em primeiro lugar porque o próprio modelo de Seminário é o que vem do Concílio de Trento... E depois porque formar padres para os tempos que correm é, de facto, uma tarefa complexa. Num mundo em mudança acelerada, com uma profunda crise religiosa e uma mutaçäo constante do religioso, é difícil acertar com a fórmula mais adequada. Uma coisa parece-me óbvia: os jovens seminaristas deviam estar mais inseridos no seu tempo, sem a excessiva protecçäo que o seminário normalmente proporciona.
Actualmente, boa parte dos novos sacerdotes já näo fazem o longo percurso de seminário que antes se fazia. Säo o que antes se chamava "vocaçöes tardias": jovens que já trabalham ou que estäo ou terminaram a universidade e que entram posteriormente na formaçäo em ordem ao ministério. Nestes casos os problemas referidos atenuam-se, embora possam surgir outros.
Seja como for, o exercício do ministério coloca questöes de grande exigência a vários níveis que, algumas vezes, obrigam a repensar o caminho... Muitas vezes os jovens padres vêem-se sozinhos, sem nenhum apoio, sujeitos à aridez desumanizadora de uma vida despida de compensaçöes humanas, difícil de suportar.
Claro que nem sempre é assim. E o que mais há säo padres contentes e felizes com a sua opçäo.
Os padres diocesanos não poderiam viver em comunidades de dois ou três (ainda que eventualmente mantendo responsabilidades individuais nas paróquias)?
ResponderEliminarClaro que precisariam de formação específica no seminário para a vida comunitária, mas sempre evitariam o estar sozinhos e poderiam apoiar-se nos momentos difíceis.
Essa começa a ser uma prática cada vez mais corrente. Unidades pastorais entregues a dois ou três padres, trabalhando em equipa e vivendo juntos. É uma soluçäo para alguns problemas. Embora outras questöes se levantem. Nunca há soluçöes perfeitas... :)
ResponderEliminarEu sou uma leiga...portanto a minha opinião, é sómente pela analise que faço, sobre a imagem que a igreja católica passa para nós os leigos...
ResponderEliminarFalta de adaptação aos novos tempos...tempos de mudança em todo o planeta
A igreja tem que fazer mudanças de base...senão fica pelo caminho....
Claro que a palavra de Deus nunca passará...os séculos passam, mas a palavra e o ensinamento fica para sempre, mas no que diz respeito, á vida dos sacerdotes....ai, meu Deus, se os não deixam ser homens na verdadeira acepção da palavra...eles não ficam, vão saindo, pelo menos aqueles que são honestos....que não vivem na hipocrisia...
o Vat...devia ponderar muito bem no assunto e fazer novo concilio e mudar....senão qualquer dia teremos que ser nós, as mulheres, a tomarmos as rédeas das paróquias....
Um abraço da sonhadora
olá sou marcos , existe uma insensibilidade para as coisas de DEUS , e claro tudo justifica para a frieza das pessoas , e o mal está sempre nos outros ou sistemas, se por acaso 2 pessoas já é conforto, 20 será muito mais e para haver mudança tem que se estar lá, onde na igreja.
ResponderEliminarTudo contribui para a falta de vocação.
ResponderEliminarO sistema a televisão a inversão de valores.
A pergunta nao deve ser como ter mais clero.
ResponderEliminarIsso é facil de resolver. Passam a pagar bons salários que haverá empresas a crer tirar contrapartidas da Igreja. Enfim.
A pergunta deveria ser antes "porque motivo havia clero e agora quase nao há?" ... mas já reparou que o cléro tem de meditar sobre si mesmo? E já reparou que é dificil?
Outra pergunta é " que clero temos?". E outra é "este é o cléro que a Igreja quer?"....
Que formaçã ha nos seminários? Que bases e que tipo de fé o nosso cléro tem? Etc... Eu estou admirado porque sabedo o que sei haveria muitos padres que já não o eram. Da mesma forma sei de gente completa que é praticamente impedida de ajudar a Igreja.
já vi muitas pessoas afastadas pelas paróquias. E são cristãos muito válidos.
Padres? Os que mais vejo agora são os padres novos de pés de barro com ideias muito giras mas sem "tomates".
A novidade nao se encontra fora... encontra-se onde sempre esteve.
Sr bispo, se permitires eu ingressar direto na Teologia, eu passo para sua diocese. Que tal? É sério. Pertenço a uma Congregação, no RS, já fiz um pouco da faculdade de História e se concordares, podemos conversar.
ResponderEliminarbrenobr27@hotmail.com