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segunda-feira, maio 22, 2006

PORQUE SÓ ESTIVERAM 7.000 PESSOAS na MARÇA CONTRA A FOME?

Quando li-a sobre a Marcha contra a Fome que aconteceu neste domingo, pensei: Caramba! eu também podia estar ali. Mais ainda!... eu queria estar ali. Mas ontem de manhã (a Manif era às 10h) tinha três missas para celebrar. Ainda tentei, dias antes, substituto, mas devido à falta de padres, não o consegui. Brotou espontaneamente em mim um salmo de lamentação. Ainda assim, dei rédeas soltas ao sonho e pensei alto: e se eu tivesse sensibilizado o povo para nos juntarmos àquela Manif. Conseguiria? Iriam acusar-me ao bispo de não querer saber dos meus paroquianos? De por em causa o direito e o dever da missa dominical? Será que iam entender que o que eu queria era ajudá-los a descobrir e celebrar ‘outra’ Eucaristia? Talvez mais transformadora, mais libertadora, e que, simplesmente quis, por um domingo só, sair do templo? E que celebrávamos depois, ao voltar, ou lá mesmo, ao terminar este dever de cidadania universal?E se tivesse ido? E se tivéssemos ido?
Mas, na loucura de um cristão que não desiste de ainda ter utopias, dei-me ao luxo de pensar ainda mais alto: e se os nossos bispos tivessem feito uma convocação geral de todo o povo que vai à missa dominical (já não digo de todos os católicos) mobilizando-os a todos para, suponhamos, três celebrações multitudinárias (entenda-se missa dominical), na região norte, centro e sul do país, ou mesmo em cada diocese, para onde fossem convidados todos os padres e todos as comunidades! Poderia ser nos estádios, ou em amplas praças. E celebraríamos em comunhão universal com esta causa tão nobre e tão urgente. Com uma liturgia, bem preparada, que sublinhasse a Eucaristia como verdadeira comunhão, partilha, fraternidade. E depois? Bom!...
Depois, juntarem-se a todos os que, de ONGs a anónimos se mobilizaram para as manifestações ‘Pobreza Zero’.Os organizadores esperavam pelo menos a adesão de 20 mil pessoas. É ridículo que apenas 7 mil pessoas abracem (físicamente) uma causa que deveria ser de todos nós. Ao mesmo tempo centenas de milhares de cristãos celebravam a habitual Eucaristia dominical. Quem sabe fria, quem sabe rotineira, seca, desencarnada, sem vínculo com a vida…
E nem vou comparar com uma outra mobilização com motivo de uma outra causa, a da bandeira nacional (provavelmente para captar imagens para um anúncio) numa bonita iniciativa que aconteceu no dia anterior (sábado) no Estádio Nacional mas, convenhamos, bem menos nobre que esta outra de que vos falo.
No entanto exaltam-se os ânimos e as (in)consciências quando o tema é o preservativo e, agora, a cadeira nos protocolos. Por um lado morre-se de fome, por outro discute-se acaloradamente o látex e os protocolos. E as verdadeiras causas e urgências humanitárias continuam a aguardar voz e vez em intermináveis filas.Na sociedade e na Igreja, para utopias zero, pobrezas cem.

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