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sábado, julho 05, 2008

Pluralismo na Igreja de Madrid - Fundamentação (2ª Parte)

A.- FUNDAMENTAÇÃO

4.- Parece-nos que o pluralismo actualmente existente em todos os campos do saber humano não só é um dado da realidade mas é também uma riqueza irrenunciável, muito mais preferível à falsa unidade que gera aquele pensamento que pretende impôr a sua particularidade como universal. A filosofía actual insiste em que o sujeito que conhece intervem no processo do conhecimento e que, consequentemente, a compreensão da realidade passa necessariamente pela interpretação. O pensamento único já não é possível nem desejável, nem na Igreja nem na sociedade civil.

5.- Postular o pluralismo legítimo de interpretações da fé cristã e da práctica pastoral não conduz à "ditadura do relativismo", isto é, não nos torna incapazes de aceder à verdade ou impossibilita de apresentar valores morais válidos. Supõe, isso sim, superar toda a forma de fundamentalismo excluente, ligado à pretensão de "possuir" a totalidade da verdade. Implica além disso, a abertura ao Espírito do Ressucitado, a necessidade "apremiante" do diálogo enriquecedor, que é o que esperamos na nossa Igreja (G.S. 92).

6.- O Novo Testamento mostra-nos uma Igreja plural. Porque plurais são as situações, grupos humanos, culturas... com as quais a Palavra se vai encontrando e nas quais têm que ir “tomando um corpo sócio-cultural”, para poder tornar-se presente sem outras dependencias que o fundamental da sua mensagem.

Uma Iglesia plural, que enfrenta a diversidade de conflictos segundo relata o livro dos Actos dos Apóstolos: o conflicto das primerias comunidades com os saduceus, com as sinagogas da diáspora, o paganismo, o aparecimento da seita Caminho no seio do judaísmo, o conflicto entre os autóctones de língua aramaica e os imigrantes procedentes da diáspora, as imposições legalistas dos partidários da circuncisão, etc.

7.- Um especialista como Josep Rius-Camps escreve: “A existência de conflictos no seio da Igreja não é de agora. Sempre, desde os seus inicios, existiram, porque são seres humanos que a compõem; na realidade são sinal de vitalidade e pluralismo. Para os fariseus, por exemplo, os publicanos eram descrentes; para os judeus-crentes, eram impuros. Para Paulo, os pagãos eram cidadãos de segunda classe. Para Jesus e o Espírito Santo eram pessoas humanas. Os conflictos não se resolvem por meio de estratégias ou imposicões, por muito santas que apareçam ou se revistam de seda. O único que pode conduzir à unidade é o Espírito de Jesus”. (Revista “Êxodo”, “Conflictos en la Iglesia primitiva”, nº 19, 1993, p. 33).

8.- A acção do Espírito é universal e manifesta-se das mais diversas maneiras. A unidade básica na fé, num mesmo Espírito, não elimina a diversidade; pelo contrário, pressupõe-na, para que todos os que são diferentes possam sentir-se na Comunidade como na sua própria casa. Na Comunidade cristã, portanto, comunhão e pluralismo complementam-se recíprocamente. O Espírito que suscita e anima os diversos carismas e responsabilidades é mesmo que nos conduz para a unidade ( Gal. 2, 9-10; I Cor. 12, 4-11).

9.- Essa unidade na diversidade capacita a Igreja para ser vínculo de união universal: “A Igreja, para congregar todos os homens de qualquer nação, raça ou cultura que estejam sob o mesmo Espírito, converte-se no sinal da fraternidade, que permite e consolida a sinceridade do diálogo. Mas isso exige, em primero lugar, que na mesma Igreja promovamos a estima mutua, o respeito e a concórdia, reconhecidas todas as legítimas diversidades, para instituir um diálogo, cada vez mais frutuoso, entre todos os que constituem o único povo de Deus. Haja no necessário unidade, e na dúvida liberdade, e caridade em tudo” (G.S. 92).

10.- Uma excessiva pretensão de uniformidade significa, consequentemente, infidelidade ao Espírito e um dano grave para a Igreja, para a sua presença real nos distintos grupos humanos e mundos culturais com os que se vai encontrando. Pensamos que a comunhão cristã pressupõe necessáriamente o pluralismo. De outra maneira dar-se-á uniformidade, servilismo, mas não verdadeira comunhão. Não somos mais do que “administradores das múltiplas graças de Deus” (I P. 4 , 10).

11.- Creemos, consequentemente, que a função do bispo é servir esta comunidade diocesana una e plural, para avaliar e promoverr os distintos carismas e sensibilidades nos quais o Espírito se torna presente. Portanto, também para discernir-los, mas em diálogo aberto e respeituoso com todos, desde a fidelidade ao Evangelho e à Tradição.

12.- O bispo e o presbítero que são também discípulos do Senhor, irmãos entre os irmãos, devem ser promotores da dignidade dos seculares desde a sua justa liberdade e competência na cidade terreste, “tratarão de conhecer com eles os sinais dos tempos, examinarão juntos os espíritos para ver se são de Deus e cuidarão de descobrir os multiformes carismas dos seculares, desde os mais modestos até aos mais altos, reconhece-los-ão com alegria, fomentá-los-ão com diligência e tratarão de harmonizar as diversas mentalidades, de tal modo que ninguém se sinta extranho na comunidade” (P.O. 9).

13.- Consequentemente, bispos e presbíteros devemos servir nos seus respectivos campos a comunidade diocesana una e plural, para avaliar e promover os distintos carismas e sensibilidades na qual o Espírito se torna presente. Creemos, portanto, que o bispo não pode configurar a comunidade diocesana à sua imagen e semelhança, configurando-a exclusivamente segundo as suas próprias orígens e tradições sócio-culturais, segundo a sua particular pertença ideológica.

14.- Bispos e presbíteros não criam a norma essencial do seguimento de Jesus, recebem-na como todos os outros, e numa comunidade procuramos, em cada tempo, a sua interpretação e aplicação. Todos devemos ser formados para conhecer cada vez melhor os ensimanetos e a praxis de Jesus, na sua origem e contexto histórico e numa sociedade como a nossa. Jesus é o modelo, caminho e a meta da norma evangélica: “Sede compaseivos como vosso Pai celeste é compassivo”.

Foro “Curas de Madrid”, 21 de Junho de 2008

Será actual a tentação de configurar a comunidade à nossa imagem e semelhança?

A Igreja está aberta à pluralidade de sensibilidades?

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