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quinta-feira, julho 14, 2005

QUE FIZEMOS DO DOMINGO?

O domingo é, porventura, a maior demonstração de que a Histó­ria não se repete e de que o tempo não pára. Resta saber se esta volatilização, que se depreende de vastos sinais, contribui - ou não ­para a sanidade e elevação da vida humana.
Outrora, o domingo começava manhã cedo; hoje, para muitos, tem início pouco antes do almoço. As cidades que, no alvorecer de cada dia; regurgitam de agitação, aparecem desertas nas primeiras horas de domingo.
Até na indumentária se materializa a mudança. Durante séculos, o melhor vestuário era usado ao domingo, a ponto de se ter tornado proverbial a expressão “traje domingueiro”. Actualmente, o domin­go é o dia do fato-de-treino, dos calções, da t-shirt...
Não se pense, entretanto, que é isto que me desencanta e preocu­pa. Como também não me repugna que o domingo seja preenchido com várias actividades, que não podem, muitas vezes, ser executadas noutros dias. Nada tenho contra os hipermercados e os estádios cheios. O que me perturba é que o domingo não seja tomado a partir da sua raiz em toda a sua profundidade.
Admito, perfeitamente, que haja lugar, ao domingo, para o lazer e para a fruição das maravilhas que Deus colocou à disposição do Homem. Penaliza-me, sim que não se encontrem momentos para a re­flexão, a partilha e a oração. O domingo é feito não de exclusões, mas de aproximações, de encontros, de interacções.
Desde a sua génese, o domingo é o dia do Senhor e, por isso, o dia de Cristo, o dia da Igrejà e o dia do homem. Numa palavra, é o dia dos dias.
Isto significa que, sob um ponto de vista genuinamente cristão, é impensável privar o domingo de todas as suas vertentes. Ele só é dia do homem na medida em que é dia do Senhor e dia de Cristo. É deste modo que a Eucaristia desponta como a alma do domingo, tanto mais que foi neste dia que Cristo ressuscitou. Como diz João Paulo lI, “se o domingo é o dia da ressurreição, ele não se reduz a um acontecimento passado; é a celebração da presença viva do Ressuscitado no meio de nós”.
Não falta quem diga que a evocação da ressurreição pode ser feita em casa, na intimidade de cada um. Não basta, contudo, que “os discípulos de Cristo rezem de forma individual, no segredo do co­ração. Com efeito, todos os que receberam a graça do Baptismo não foram salvos somente a título individual, mas enquanto mem­bros do Povo de Deus. Por isso, é importante que se reúnam para exprimir em plenitude a pr6pria identidade da Igreja, a assembleia convocada pelo Senhor ressuscitado”.
Sucede que a Eucaristia não se circunscreve à sua celebração do­minical. O cristão sai da Missa para a missão. Ou seja, a celebração existencial da Eucaristia não pode ser dissociada da sua celebração sacramental. “Como as primeiras testemunhas da ressurreição ­acrescenta o Santo Padre -, também os cristãos de hoje são chama­dos, na sua vida quotidiana, a tornarem-se evangelizadores e teste­munhas” .
Trata-se, no fundo, de dominicalizar toda a semana, todo o tempo, toda a vida. Por isso é que o domingo surge não como o “último dia do fim-de-semana”, mas como o “primeiro dia da semana” (aquele que pauta o seu ritmo) ou, então, como o “oitavo dia” (enquanto imagem da eternidade e, ao mesmo tempo, do itinerário que a ela conduz).
Importante, neste sentido, é que não transportemos para o do­mingo a azáfama do quotidiano semanal. Mas que, pelo levemos para a semana a paz e a reconciliação que formos capazes de acolher no domingo. Não é o domingo que tem de ser a continuação do resto da Sema­na. Cada dia da semana é que deve ser o prolongamento do domingo.

6 comentários:

  1. Cheguei tarde, mas mais vale tarde do que nunca e Cristo disse que "os últimos são os primeiros".

    Só para dizer que li o artigo, o registei na mente e no coração.

    Estou de acordo em tudo, se bem que, e peço desde já a "absolvição" (eh, eh), mas gosto mais de ir à Missa à semana do que ao Domingo. O motivo é porque à semana, a Missa é mais serena e convida-me mais ao recolhimento; ao passo que, ao Domingo, me sinto metida no meio de muita confusão: entra-se e temos logo trinta olhos a mirar-nos de cima a baixo, uns tossem, as crianças choram, etc., e não se sabe muito bem quem celebra: se o Padre, se a senhora ou senhoras que mandam agora, em simultâneo, nas Igrejas.

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  2. Ao Domingo a missa é... mais moderna. Também gosto mais da serenidade. Mas não é isso um convite de Deus a encontrar os outros? E os outros tossem, sim, e são crianças a chorar. Cristo caminhou em grande algazarra, a não ser nos quarenta dias do deserto e na noite das oliveiras. Até na Cruz teve gente a tossir, e a mirá-Lo de cima a baixo.

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  3. Ok, Goldmundo!
    Reconheço tudo isso que dizes. Mas olha, sou assim um caso à parte, muito peculiar na minha forma de estar na vida e recuso-me a seguir as multidões. Embora até vá mais à Missa aos Domingos do que à semana, por falta de tempo; mas lá que gosto mais, gosto.
    Se calhar, embora me custe a reconhecê-lo, sou um pouco elitista e pouco dada aos outros, (embora me esforce por ajudar).
    Contudo, entendo que cada um tem a sua forma específica de seguir na vida com Cristo.
    Não disse Ele: "em casa de Meu Pai há muitas moradas"?
    E S. Paulo não disse: "o Espírito Santo revela-se, de forma diferente, a cada um de nós..."?

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  4. Ora cá estamos outra vez com o dilema...uns queixam-se que o povo não colabora na eucaristia(isto os padres), a help diz que se sente metida no meio da confusão, com gente a tossir...trinta olhos a mirá-la?!...mas afinal o que é que querem?! querem ir assistir à eucaristia, pelo significado que ela tem...ou querem eucaristias feitas à medida dos vossos gostos!!!
    Aonde fica a tolerância de uns para com os outros??? Gente somos todos diferentes nos gostos...mas ao menos na "NOSSA IGREJA" sejam iguais!!! Colaborem com os padres na missa... "Padres, façam o favor de ter diálogo com o povinho...meu Deus!!!" o que custa entendermo-nos todos...se houver boa vontade!!!
    É dificil começar a gerir este problema...mas verão que todos lucraremos com isso!!!
    Um beijão da cabocla

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  5. Cabocla,
    Não fiques assim tão zangada comigo.
    Uma coisa é aquilo que eu gosto mais; outra é aquilo que eu devo fazer e que me esforço por fazer.

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  6. help, eu não estou zangada!!!é a minha maneira de falar, o que quero dizer, é que temos que ser mais tolerantes, uns para com os outros...se nos entendermos (a começar nos nossos momentos de comunhão na igreja) sairemos da eucaristia com muito mais força e vontade de darmos as mãos, mesmo cá fora, do que se ficarmos a querer puxar o barco sempre para o nosso lado, entendes? é só isso help...
    Beijinhos para ti e não fiques triste comigo.
    Abraço da cabocla

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