
Qual é o teu tesouro?
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- Prazer...
CRISTO É PARA NÓS UM TESOURO?
É claro que me preocupa sobremaneira o ateísmo dos que se assumem não crentes. Não oculto, contudo, que ultimamente o que mais me tem atormentado é o ateísmo dos que se dizem crentes. Daqueles que, confessando Deus com, os lábios, acabam por negá-Lo com a vida. Não é difícil discernir sobre qual deles será mais danoso e perturbador.
Tendo qualificado o ateísmo como um “dos factos, mais graves do tempo actual”, o Concílio Vaticano Il não hesitou em atribuir aos crentes um papel determinante na sua génese e no seu crescimento. Referia-se em especial àqueles que, por debilidades na formação e por contradições na vivência, “escondem, em vez de revelar, o autêntico rosto de Deus e da religião”.
Todos nós temos perfeita noção de que uma fé que não se projecte na vida contradiz-se a si mesma. De que uma fé que não se traduza em compromisso com a justiça e em militância na causa da liberdade implode num ápice. De que uma fé que não prime pela coerência morre num instante. .
Não sei, por isso, o que será preferível neste campo: se uma negação real, se uma adesão virtual à fé. Ao menos, no primeiro caso, salvaguarda-se a verdade sempre libertadora (Jo 8, 32).
Foi neste contexto que me causou muita impressão uma confidência do Prof. Oscar Lopes. Segundo ele, “o homem que mais contribuiu para o abalar das suas convicções foi um padre”. Simplesmente porque, na sua óptica, “ele próprio (o referido sacerdote) não acreditava” .
É natural que haja algum exagero. É provável que o conhecido ensaísta nem tenha razão. Mas estaremos em condição de subtrair pertinência ao que afirma?
Noutro plano, quando o realizador Carlos Carrera sustenta que “a Igreja é pouco cristã”, é natural que um assomo de indignação percorra todas as fibras do nosso ser. De facto, uma Igreja ou é integralmente cristã (pelo simples motivo de pertencer a Cristo) ou não é Igreja. Interrogue-mo-nos: Procurarão os membros da Igreja reproduzir - na sua vida - as palavras, os sentimentos, os gestos e as atitudes de Cristo? Ou não sucederá que, em lugar de um mínimo de sintonia, estarmos a patentear um máximo de contraste para com Ele?
Tomemos como referência a relação Jesus com o Pai, critério decisivo e instância suprema para a aferição da sinceridade. Na boca de Cristo, “Abba-Pai” era uma expressão recorrente. E em nós, cristãos?
Já não é a primeira nem a segunda vez que assistimos a longas entrevistas com pessoas credenciadas, que desempenham funções de grande relevo na Igreja. Passam-se os minutos fala-se dê tudo; e, para nosso espanto, de Deus... nada. Ou muito pouco.
É por isso que chego à conclusão que uma boa fatia do ateísmo contemporâneo não visa atingir directamente Deus, mas o comportamento de muitos que presumem falar - e agir - em Seu nome.
Arrisco mesmo dizer que há ateus que não estão saturados de Deus nem desiludidos com Deus. Pelo contrário, até sentirão uma incontida saudade e uma tremenda nostalgia da Sua presença. Por conseguinte, se alguma coisa esperam não é que falemos menos de Deus. É que falemos mais. Não tanto com as palavras dos nossos lábios, mas com a palavra da nossa vida.
Porque, para o bem e para o mal, é a vida que vale. Que conta. E que decide.