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quinta-feira, outubro 07, 2010

Casamento ou comédia?

Muitos casam-se "na Igreja" mas NÃO "pela Igreja".
Vestem-se de gala, celebram o rito, mas NÃO recebem o "sacramento do matrimónio" porque estão fechados a ele, não há um atitude de abertura. Muitos nem sequer sabem que existe um sacramento e o que este significa, celebram - como muito - um "matrimónio civil" com velas, flores e música. Nada mais. Muitos é o que procuram, o adorno.
Esta REALIDADE leva-me a afirmar e a repetir que há muitissimos mais "matrimónios nulos" do que os que se solicitam e declaram. Um pinguin que comungasse receberia o sacramento da Comunhão? Não, porque não têm capacidade nem atitude, falta o sujeito válido, isto é, quantas vezes recebemos sacramentos como pinguins? E eu continuo a perguntar: Pode celebrar-se uma "matrimónio sacramental" (a católica) sem conhecer nem querer o sacra-mento? Estes "matrimónios sem sacramento" não deveriam ser admitidos nem reconhecidos pela Igreja, da mesma maneira que não se reconhece o "matrimónio civil".
Se existe falsidade, ignorância, inconsciência ou involuntariedade sobre a espiri-tualidade do sacramento, não há religião, não há sacramento, não pode haver matrimónio religioso. Quantos há que só se dão conta quando se sentem agarrados como coelhos numa inamovivel armadilha! E não porque se sintam atados pela outra parte, mas pela inflexibilidade e incompreensão das normas religiosas. Quantos fogem da institução eclesial e da sua rigidez para poder respirar! Que paradoxo doloroso!
Alguns objectarão que, ainda assim, o matrimónio é válido porque há um contrato objectivo e público. Pode. Mas então seria um simples "matrimónio civil" festejado numa Igreja. E muitas vezes nem isso porque, além de não existir o sacramento, falta a suficiente maturidade (vontade, liberdade e consciência) para que esse contrato seja válido. Pode casar-se uma criança de dez anos? Teóricamente não. No entanto, a minha experiência diz-me que há muitas "crianças" que se casam sem mais nada do que a força do costume, das carências ou do impulso biológico. Infelizmente, as leis (civis e religiosas) fixam-se na maturidade biológica e nem tanto na sicológica e espiritual. Assim fundam-se famílias como currais e não como lugares cristãos.
Quando surgem as rupturas, não se pode aplicar aos divorciados menor compreensão que a aplicada a estes "matrimónios de faz de conta" celebrados dentro duma Igreja. O rigor, a severidade e a maturidade devem exigir-se ANTES do casamento e não DEPOIS do reconhecimento do erro. Seria um disparate MANTER o matrimónio "formali-zado" entre uma rã e um corcodilo. E mais ainda querer NEGAR os "erros iniciais dos contraentes" com a culpabilização da religião.
A solução para os divorciados católicos (de boa fé) passa por facilitar o acesso à "declaração oficial de nulidade" (reconhecimento de erros básicos na origem) depois de um meditado e resumido "processo de consciência" e não através dos larguissimos trâmites processuais actuais à imitação da justiça civil. Com a actual estructura jurisdiccional da Igreja seria praticamente impossível atender o aumento de processos de nulidade.
A "nulidade matrimonial" não é uma questão de leis rigidas, inflamados advogados, armadilhas processuais, nem de dinheiro por baixo da mesa (as pessoas estão muito engañadas neste ponto porque as taxas eclesiásticas são mínimas). É uma "questão de consciência", de discernimento, de ver se houve liberdade, vontade e consciência suficientes ou um fatídico ERRO, uma pura comédia inconsciente. A missão da Igreja deveria ser AJUDAR a discernir em consciência se existiu ou não matrimónio. Mais do que um tema jurídico e processual é um tema sociológico e espiritual. Mais do que juizes e advogados deveriam intervir sociólogos e mestres espirituais.
Não se trata de fazer desaparecer os divórcios enchendo a manga com nulidades para todos. Trata-se de abrir os olhos à REALIDADE e compreender que muitos pessoas “casam-se” por um erro próprio ou induzido. Não parece justo que existam soluções mais fáceis para um assassino em série que se arrepende, do que para quem reconhece o ERRO de ter "formalizado" um casamento equivocadamente. Para o assassino arrependido, o perdão sem condições. Para o erróneamente casado que quer rectificar o seu erro e a sua vida, excomunhão perpetua. Não parece sequer lógico.
Este é um dos temas pendentes da Igreja que a herarquia conhece muito bem. Por isso eminentes vozes desta mesma herarquia pedem um Concilio para aprofundar e dar soluções a estes nossos irmãos que sofrem ao estarem "oficialmente" afastados. A nossa hierarquia também reconhece que a protecção do matrimónio e família católicos passa por proporcionar uma formação séria e profunda ANTES do casamento e uma assistência continuada DEPOIS.
Claro que uma coisa é ver os problemas e outra dar-lhes solução.
A lentidão dos nossos dirigentes é proverbial.

3 comentários:

  1. Não pode ter mais razão padre. Eu subscrevo por baixo, por experiência própria. Com as dificuldades que a igreja impõe à nulidade do casamento , pouco mais resta se somos católicos é ficar casado até que a morte nos separe, ainda que seja extremamente doloroso.
    Paz e bem
    Maria

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  2. Esta comédia é permitida pela Igreja, que aceita desta com casamentos de aviário, banalizar os sacramentos.....
    Henrique Dias

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  3. Concordo em parte com este texto e discordo em outras partes.
    Julgo também, (e quem sou eu para julgar), que grande parte dos Matrimónios “celebrados”, não são efectivamente celebrados, ou seja, são nulos, por todas as razões que aponta e até pró uma logo à partida: a falta de fé, esclarecida e sincera.

    Mas aqui grande parte da culpa pertence à Igreja e talvez muita aos sacerdotes que fazem o processo de Matrimónio.
    Já o disse várias vezes e até a alguns Bispos, que o Sacramento do Matrimónio me parece ser o Sacramento da Igreja mais “desvalorizado”, isto é, aquele que menos exige daqueles que o vão receber/celebrar. Começa logo por, em meu entender, dever ser exigível antes do Matrimónio, o Sacramento da Reconciliação, excepto nos casos de Matrimónios Mistos, ou seja, de um católico/a com um não-católico/a.

    Mas, julgo eu, (já estou a julgar muito), cabe aos sacerdotes instrutores do processo a exigência de uma prática de fé que possa ser o garante, o aval, de que esse Sacramento é celebrado e não apenas uma festa de pompa e circunstância. Não me parece que se um sacerdote/pároco negar a celebração do Matrimónio por nítidas insuficientes condições de vida cristã, algum Bispo vá contra essa decisão.

    Passei por tudo isso, pelo Tribunal Eclesiástico, (muito demorado, é certo), mas que no fundo teve a importância de uma reflexão profunda, vivida, meditada sobre toda a minha vida cristã e sobre como a viver no futuro. Durante esse tempo em que me mantive afastado da Comunhão Eucarística, não deixei de a fazer espiritualmente e assim esse Sacramento ganhou uma dimensão que não tinha tido até esse tempo.

    Penso que realmente se deve “agilizar” a instrução e realização dos processos, mas também penso que devem ter a dignidade e exigência necessárias para não se transformarem em meros actos burocráticos que transformariam o Sacramento do Matrimónio num qualquer casamento civil.

    Sabemos bem que hoje em dia o “contrato de casamento civil” é o contrato mais facilmente anulado, tendo em vista todos os outros contratos como de trabalho, de arrendamento, etc, etc

    Hoje em dia os tribunais civis estão cheios de processos, alguns por “dá cá aquela palha”, (justiça essa que é cara), mas no entanto as pessoas muitas vezes não acedem aos Tribunais Eclesiásticos para resolverem um problema que pode afectar a sua vida no todo.

    A conversa seria longa e já ocupei aqui muito espaço.

    Um abraço amigo em Cristo

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